Editorial: Além do prognóstico

Violência e insegurança tornaram-se temas insistentemente presentes nas discussões do cotidiano. Tanto que provocaram uma miragem, a de que seria aquilo que mais preocupava os brasileiros, desfeita por numerosas pesquisas de opinião com a população do País. Todos os institutos que aferiram os anseios do povo, no ano passado, encontraram outro cenário: é a saúde o problema que mais tira o sono do cidadão.

Trata-se, do ponto de vista da administração pública, de desafio em permanente mutação, exigindo modificações de processos e busca intermitente por modernização do serviço prestado à população e de sua gestão. Estima-se que 70% dos brasileiros dependam, exclusivamente, do Sistema Único de Saúde (SUS). O montante supera a largo uma centena de milhões de cidadãos, necessitados de assistências diversas.

Mais de 47 milhões são contratantes de serviços de saúde suplementar, mas constitucionalmente têm garantidos seu acesso ao SUS e, não raro, recorrem às duas redes conforme as necessidades. Intensificou-se o fluxo de pacientes potenciais que deixam os planos pagos para dependerem apenas do SUS. A instabilidade da economia do País tem levado mais pessoas a este contingente, dada a dificuldade de algumas famílias manterem planos de saúde em seus orçamentos domésticos.

É preciso estar preparado para atender a demanda, que em casos de saúde, como se sabe, é inadiável. Tanto o Governo Federal como o Estadual anunciaram projetos para a área, que incluem reforço no quadro de profissionais dedicados ao atendimento da população. São incrementos auspiciosos que prometem melhorias se devidamente implementados.

No plano federal, o Executivo anunciou um substituto do Programa Mais Médicos. A proposta ainda é ampliar a oferta de serviços clínicos especializados em locais de difícil acesso e/ou de alta vulnerabilidade, além de formar especialistas em Medicina de Família e Comunidade. Com o Programa Médicos pelo Brasil, o Governo Federal projeta ampliar, em cerca de 7 mil vagas, a oferta de médicos nas regiões onde há os maiores vazios assistenciais. Ao todo, foi anunciada a criação de 18 mil vagas, 13 mil delas para locação em municípios de difícil provimento.

Por parte do Governo do Estado, a novidade é a Plataforma de Modernização da Saúde. Há mudanças externas e internas previstas, com adoção de um novo formato de atendimento à população e tentativa de minimizar interferências políticas na condução das políticas e ações de saúde pública. Trata-se de proposta que pretende conferir maior profissionalização à gestão, com a criação de agências regionais, com lideranças escolhidas por critérios técnicos, com menor influência da administração pública. Espera-se investimento da ordem de R$ 600 milhões.

É fundamental que ambos os planos, de grande impacto potencial, sejam devidamente executados. O termômetro da vontade popular capta um problema concreto, que em seu limite separa a vida da morte. A melhor resposta para tal questão passa, certamente, pela adoção de serviços especializados administrados de forma cada vez mais técnica e livre de outros interesses que não o bem- estar da população.


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