Editorial: água do mar, a boa opção

Avança, embora a passos lentos, o projeto do Governo do Estado do Ceará de construir uma usina de dessalinização da água do mar. A ideia nasceu há mais de dois anos, quando se agudizou a crise de oferta hídrica causada pela baixa pluviometria que secou os grandes açudes do Estado, inclusive o Castanhão, o maior deles, hoje com pouco menos de 5% de sua capacidade total de 6,5 milhões de metros cúbicos.

De lá para cá, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) - à qual compete a tarefa de tornar realidade o empreendimento - promoveu uma série de providências legais que, agora, chega a uma etapa próxima do objetivo final, que é instalar, na Praia do Futuro, no lado Leste de Fortaleza, uma unidade industrial dessalinizadora, capaz de produzir pelo menos 12% da água potável consumida pela sua população.

Sabe-se, agora, que está em processo de desapropriação o terreno escolhido pela Cagece para abrigar a usina. O investimento para a construção do empreendimento está em torno de R$ 480 milhões, sendo mais de R$ 219 milhões destinados para a compra de equipamentos e montagem do material para o funcionamento da usina.

Na próxima quinta-feira (24) haverá uma audiência pública destinada à apresentação, discussão e coleta de contribuições para a concessão de serviços de dessalinização da água marinha.

Todo esse longo labirinto burocrático ainda está longe do seu fim, o que é má notícia, uma vez que, pelos primeiros sinais da ciência, a previsão é de que 2020 deverá repetir a pluviometria de 2019, cujas chuvas foram excelentes e volumosas no litoral, mas raquíticas nas demais regiões do Estado, principalmente no Sertão Central.

O Projeto São Francisco de Integração de Bacias, que, quando estiver concluído e em operação, será um aliado importante não só para garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza mas também para as atividades econômicas agrícolas e industriais, continua sendo apenas um sonho secular.

As obras do seu Canal Norte, que beneficiará o Ceará, continuam atrasadas, e a mais otimista previsão é de que só serão concluídas em dezembro. Se isto se confirmar, as águas do Rio São Francisco só chegarão ao Castanhão em abril ou maio do próximo ano.

Diante da crescente preocupação de quem, no campo, produz e trabalha na produção de alimentos, toda a atenção volta-se, naturalmente, para o projeto de dessalinização da água do mar.

Estima-se que a primeira usina - na qual serão investidos R$ 480 milhões - só entrará em funcionamento dois anos após o início de sua construção. Sobram, pois, duas alternativas - a ocorrência de uma boa estação de chuvas em 2020 e a efetiva conclusão e operação do Canal Norte do Projeto São Francisco, que atenderá também a população do vizinho Rio Grande do Norte.

Neste momento, o Governo Federal - de onde provêm os recursos financeiros que garantirão o fim da obra - enfrenta dificuldades orçamentárias, razão pela qual tem reduzido a liberação de verbas. Como, porém, está em jogo o abastecimento de uma população de mais de três milhões de pessoas, que é a da Região Metropolitana de Fortaleza, espera-se que as autoridades de Brasília usem o bom senso para evitar um mal maior.


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