Editorial: A quem pertence o futuro

Dentre os pontos pacíficos que se pode chegar, com relativa facilidade, é que a humanidade vive uma temporada atípica, de muitas incertezas no horizonte. Pode parecer uma constatação demasiado simples, mas não são fáceis os acordos, mesmos os menos complexos, em tempos tão polarizados.

A veemência com que se diverge sobre toda sorte de questões é a própria concretização do impasse que se vive, um desafio em especial para as administrações públicas. Que caminho tomar? A indagação exige uma resposta que tanto atenda ao presente, que responda anseios dos cidadãos e, quando for o tempo, dos eleitores; como ao futuro. Este tempo vindouro, aliás, é cada vez menos abstrato e parece vertiginosamente próximo. Os alertas contra as mudanças climáticas, e a possibilidade aventada de seu curso já ser irreversível, trazem para o cotidiano, mesmo do homem comum, uma questão tão imensa quanto a do futuro da humanidade.

É sobre o futuro, também, que se fala quando a discussão leva em conta a vida das crianças nas grandes cidades. Foi com tom de apreensão que se celebrou o 30º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, o tratado de direitos humanos mais amplamente ratificado no mundo. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicou carta aberta da diretora-executiva da organização, Henrietta Fore.

Apesar de o documento lançar um olhar panorâmico, na tentativa de abranger problemas de diversos países, os desafios que ele coloca são tudo menos genéricos ou estranhos à realidade que se vive em qualquer parte do Brasil. São, portanto, alertas que merecem atenção, devendo ser considerados, junto a outros indicativos, na elaboração, revisão e execução de políticas públicas federais, estaduais e municipais.

Não é surpresa a persistência de problemas graves, que ameaçam até as mínimas garantias do direito à cidadania dos jovens, em geral, tendo as crianças como o segmento mais vulnerável neste grupo. Dentre eles, se sobressaem as dificuldades de acesso à educação, seja por falta de oferta, por parte do poder público, ou por outros fatores; a pobreza extrema; as desigualdades, em especial a de natureza econômica, quando demasiado acentuada; e as discriminações - étnicas, de classes, regionais, religiosas, relacionadas a gêneros etc.

Mas a lista de problemas vai além. E isso é o convite a pensar no presente e seu legado para o futuro. São vistos como desafios crescentes para as crianças do mundo: os conflitos prolongados; a poluição e crise climática; a piora dos índices de saúde mental; habilidades futuras para trabalhos futuros; direitos sobre os seus dados e privacidade online; e desinformação online.

É um dever cidadão pensar de forma ampla nestas questões, aproximando-as da realidade local, como é possível fazer com os conflitos prolongados e a extrema violência do contexto social das facções criminosas em todo o País (Ceará incluso). Combatê-las pode já fazer parte de planos e ações dos governos, mas deve-se estar atento à forma como afetam aqueles que farão e viverão o futuro. O presente, percebe-se então, demanda empenho e cooperação, em prol de ideais e valores mais elevados, que devem ser deixados a distância de polarizações infrutíferas.