Editorial: A política do diálogo

O principal compromisso do presidente Jair Bolsonaro, após seu retorno da viagem a Israel, é retomar os trabalhos de articulação em prol da reforma da Previdência. A quinta-feira será dedicada a reuniões com parlamentares e líderes partidários, com a finalidade de conquistar apoios que garantam a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) enviada ao Congresso Nacional ainda em fevereiro. Essa é uma etapa necessária do trabalho, se o Governo Federal quer lograr êxito com seu plano de recuperação das contas públicas passando por ajustes previdenciários. Mas há outros, tão importantes quanto a articulação política, que o Planalto não pode esquecer.
Nas duas últimas semanas, um ziguezague de manchetes no noticiário documentou os atritos entre o Executivo e o Legislativo. Questionou-se a quem caberia a tarefa de articular a base e conseguir apoio para sua aprovação na Câmara dos Deputados; e qual o compromisso com a reforma. A tensão custou a se dissipar, mas agora o Governo parece estar próximo de um entendimento com o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia.

A demora em fazer o diálogo voltar aos eixos e a fluir, após rusgas e declarações fortes, teve a ver, entre outros fatores, com a habilidade de comunicação. O Governo Federal precisa ter atenção com esse ponto e, ainda que sua equipe seja habituada com os novos meios, há elementos imutáveis da comunicação que se precisa conhecer bem. Dizer o que se deseja, anunciar suas intenções, é apenas uma operação, de emissão, que depende da participação ativa do outro lado, de quem recebe a mensagem, e de seu feedback. O diálogo é um exercício de retroalimentação, de informações e afetos. Para ser eficiente, depende do entendimento e ele, em grande medida, está ligado à boa vontade das partes envolvidas no processo.

A comunicação é importante não apenas para a equipe responsável por fazer articulações e ganhar apoio, aqueles a quem foi incumbida a tarefa eminentemente política do plano para aprovação da reforma previdenciária. A equipe de Paulo Guedes, ministro da Economia, responsável por elaborar tecnicamente a PEC, também deve ter suas estratégias de tornar mais claro o que foi proposto, a cada consulta ou oportunidade de se fazerem ouvidos. 

É evidente que o projeto de reforma da Previdência envolve um conhecimento especializado que, muitas vezes, é difícil ser entendido pelo público leigo. Contudo, por conta de sua abrangência e da universalidade de seu impacto no futuro dos cidadãos e das instituições brasileiras, é preciso que se dê a atenção devida às dúvidas que surgirem. O ruído se faz ouvir. A todo momento, se vê, aqui e acolá, análises que dizem que o efeito da reforma é um ou seu exato oposto.

E há ainda o desafio maior. O de informar, dialogar e convencer a população. Pesquisa recente do Instituto Opnus apontou que 70% dos cearenses rejeitam proposta de reforma da Previdência. É natural que proposições de mudança, sejam quais forem elas, encontrem resistência. É uma reação natural das pessoas. O Governo precisa se entender com os demais representantes eleitos pelo povo e, obviamente, com o próprio povo, sob o risco de fazer um esforço de articulação que resulte infrutífero. 


Assuntos Relacionados