Editorial: A memória e a cidade

Dez anos se passaram desde a última intervenção drástica na Praça José de Alencar, uma das mais antigas do Centro da capital cearense. De 2013 até hoje, seguidas vezes foram anunciados planos de novas obras no local, projetando uma sucessão de cenários e inovações que não chegaram a ser concretizadas. A Prefeitura Municipal de Fortaleza revelou sua intenção de, até o fim do ano, pôr em ação um plano de reforma do local, bem distinto daquele projetado nos anos anteriores.

O destino do logradouro está intimamente ligado ao da Praça Castro Carreira ou Praça da Estação. A administração municipal projeta desativar o caráter de terminal de ônibus do local, com isso parte das linhas seria direcionado a pontos que serão construídos em espaço ao lado da Praça José de Alencar. As mudanças se concentrariam nas ruas General Sampaio e Liberato Barroso, incluindo a construção de uma travessia de nível em frente ao Theatro José de Alencar (TJA).

Inaugurado em 2010, o TJA é o palco mais tradicional do Estado, e um dos principais espaços de formação do Ceará. É o principal prédio do conjunto arquitetônico da Praça, e um bem tombado, particularmente importante para a história e a cultura, não apenas da Capital, mas de todo o Estado. Por tudo isso, requer atenção especial em qualquer intervenção urbana que se realize em sua vizinhança.

Atenção ao Theatro José de Alencar, em sua relação com a cidade, é uma demanda permanente, que requer envolvimento tanto do Estado quanto do Município. Não é de hoje que o prédio e a instituição cultural que nele funciona convivem com os problemas da Praça. Não é um problema tão distante daquele que enfrentam outros equipamentos culturais, instalados em prédios históricos, no Centro de Fortaleza. É o caso do Cineteatro São Luiz com a Praça do Ferreira; e o Museu do Ceará e a Academia Cearense de Letras com a Praça dos Leões.

A situação das praças da Capital, em especial daquelas do bairro central, claro, é complexa. Passa inclusive pela crise social e humana da exclusão, daqueles que vivem sem o acesso de direitos básicos, como a moradia. Questão das mais importantes e que precisa de resposta das autoridades públicas, mas que não deve ofuscar outras que se inscrevem no uso do mesmo espaço. 

Toda cidade precisa manter uma relação saudável com seu passado, e isso passa pelo cuidado com suas edificações históricas. Isso se dá não apenas por meio de periódicas ações de manutenção de sua estrutura física, mas de ações urbanísticas que potencializem sua integração à cidade. Os casos citados, vale salientar, têm ainda a importância de abrigarem instituições de caráter cultural, entidades fundamentais não apenas dessa convivência com o passado, mas também com seu presente e futuro.

Que mudanças que se anunciam no horizonte tragam, não apenas para o Theatro José de Alencar e para a Estação João Felipe (cuja fundação remonta ao ano de 1880) dias mais auspiciosos e integrados com o fluxo da cidade. Ambas as construções precisam ser tomadas como tais – marcos da história, que se projetam no futuro –, e que, portanto, não podem ser secundadas em qualquer intervenção que o poder público projete.