Editorial: A importância da Cultura

A esfinge da Cultura exige decifração, da sociedade em geral, e impõe este desafio como incontornável às administrações do setor público. As demais áreas da vida social - mais ou menos ordenadas em macroáreas a partir das quais os governos organizam suas instituições e ações - são complexas e interdependentes. Mas, Economia, Educação, Saúde e Segurança, para se limitar a poucos exemplos, são razoavelmente circunscritos. A Cultura transborda, perpassa outros campos, se confunde com eles e, por vezes, o abrange.

Investir em Cultura exige, primeiramente, compreendê-la. Por mais exigente que seja, a tarefa dispõe de sinalizações de caminhos a se seguir, já testados e bem estabelecidos no contexto de uma tradição das políticas culturais. Estas, necessário salientar, passam por permanentes atualizações, de forma a acomodar expressões novas e outras de origens remotas, mas até então não compreendidas como culturais (pelo menos, não na ideia mais restrita deste campo, operacionalizada por administrações públicas e privadas).

Estão inscritos em seus domínios desde o imaginário e as tradições de um povo, com seus valores e hábitos (os bons e os nocivos), o patrimônio (material e imaterial), o esporte, o lazer, até aquilo que a maioria identifica, de pronto, como rigorosamente cultural - as produções artísticas e intelectuais. Há domínios que escapam à intervenção política direta, sendo necessárias ações coordenadas e tangenciais - caso de valores e imaginários carregados de violência, como os que dão suporte à misoginia e o racismo; outros se abrigam em rúbricas específicas, dada às suas dimensões, e o melhor exemplo é o esporte.

A Cultura, como setor a ser priorizado e cuidado pelo Estado e seus equipamentos, é aquela que cumpre duas funções: a de ser vetor do desenvolvimento econômico; e a que tem papel fundamental para a transformação social.

Os resultados econômicos são bem documentados. Estudo da Fundação Getulio Vargas, encomendado no ano passado pelo extinto Ministério da Cultura, mostrou que para cada real investido em eventos culturais houve um retorno de R$ 13. O relatório mundial "Repensar as Políticas Culturais: Criatividade para o Desenvolvimento", da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostrou que a economia criativa gera receitas de US$ 2,25 bilhões de dólares por ano (excluídos os números relativos à indústria do entretenimento). As exportações globais superam a marca de 250 bilhões de dólares; e o setor emprega 30 milhões em todo o mundo.

São números que mostram a importância de o Poder Público investir na área, por meio de suas pastas administrativas (nas instâncias federal, estadual e municipal); e por meio de outras de suas instituições, como bancos e empresas ainda robustas.

Não se deve tratar a Cultura como área desimportante, submetendo-a orçamentos minguados e cortes apressados, como se a mesma fosse supérflua e prescindível. Em momentos de desajustes de contas públicas, quando os recursos ameaçam faltar para todas as áreas, é importante encontrar saídas criativas, soluções administrativas que não terminem por piorar a situação dos setores já historicamente prejudicados.


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