Editorial: A guerra no trânsito

Os números são similares aos de uma guerra. No ano passado, 46 mil pessoas morreram nas vias públicas do Brasil. O País ocupa uma indesejável quinta posição entre os trânsitos mais violentos do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A tragédia humana é acompanhada de um duro golpe nas contas públicas. Os acidentes graves, envolvendo mortes ou casos de invalidez, têm um impacto econômico de R$ 199 bilhões por ano.

Na última década, o Ceará manteve uma taxa de mortalidade no trânsito que ultrapassa a marca de 2 mil vítimas por ano. Em 2018, se consideradas apenas as fatalidades que foram indenizadas, o número foi de 2.138 mortes. Outras 18 mil pessoas ficaram com sequelas permanentes por conta de colisões e outros acidentes nas ruas, avenidas e estradas do Estado. A violência no trânsito provoca um impacto econômico local da ordem de R$ 7 bilhões.

A realidade nas estradas é bem documentada. Abundam estatísticas e estudos, que desenham quadros semelhantes, de uma ponta a outra do País. É o caso dos acidentes envolvendo motocicletas, que correspondem a metade do total; e perfil das vítimas (três quartos são homens). Os números oscilam ano a ano, mas permanecem estarrecedores, se comparados aos encontrados em outros lugares do mundo. São como notícias repetidas a assombrar o Brasil.

Não faltam motivos, nem informações norteadoras para se transformar a rotina letal de nossas vias. A tragédia humana e sua contraparte econômica são mais do que suficientes para demandar ações vigorosas do poder público, compartidas entre a União, os estados e os municípios.

No plano federal, inspiram atenção propostas como a redução do número de fotossensores em estradas e a ampliação do limite de pontos por infrações na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Os índices não melhoram com leis mais brandas. As sugestões do Governo vão de encontro a compromissos firmados pelo País, no âmbito da Organização das Nações Unidas. O pacto global tem como objetivo reduzir o número de mortes no trânsito até 2020, fazendo cair pela metade o caso de óbitos relacionados nas grandes cidades. 

Metrópoles brasileiras até têm se destacado nesse sentido, conseguindo reduzir a quantidade de acidentes graves em sua malha viária, mas ainda estão distantes de cumprir a meta global. Quando comparados os indicativos de 2018 e 2017, Fortaleza apresentou uma redução de mortes no trânsito da ordem de 12%. É o quarto ano consecutivo que a capital cearense reduz sua taxa de letalidade nas vias públicas – totalizando um decréscimo de 40% entre 2014 e o ano passado. A cidade-modelo no Brasil é Salvador (BA), com 54% de redução em igual período, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Em comum, as estratégias eficientes, no Brasil e no exterior, combinam legislações voltadas para redução de acidentes, projetos de engenharia urbana, esforços de fiscalização e campanhas educativas, elaborados a partir de estudos atualizados e atentos às especificidades de cada território. Importante salientar: é inútil esperar que o Estado resolva, sozinho, o problema. A eficiência de todas essas medidas depende do compromisso e da consciência dos cidadãos.


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