Editorial: A educação fora dos palanques

O Brasil evoluiu substancialmente na área educacional, mas ainda não se tornou uma verdadeira prioridade de Estado. O resultado é a baixa qualidade da educação que se reprova toda vez que são apontados com alguma euforia os dados da inclusão dos jovens na sala de aula. Com isso, o País fica condenado a um lento e amargo desenvolvimento econômico, uma vez que ele não acontece para valer se não estiver acompanhado do capital humano devidamente habilitado para ser agente desse progresso.

As considerações, que não são novas, vêm a propósito da incômoda posição brasileira na classificação apresentada na semana passada pelo Banco Mundial na reunião conjunta com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O desempenho do Brasil ficou atrás de oito países sul-americanos e de emergentes como China, Rússia e Turquia.

Esse ranking foi divulgado pelo Banco Mundial em face de novo índice criado para mensurar os retornos dos investimentos dos países em capital humano, considerando que os diagnósticos sobre a situação econômica dos países valorizam sobretudo aqueles elementos ligados às condições de equilíbrio orçamentário e às aquisições de equipamentos industriais e outros, sem observar que são insuficientes para sua completa avaliação. O capital humano é necessário para complementar uma visão de futuro mais consentânea com a realidade atual.

As pesquisas têm revelado que aquelas crianças com boa saúde e fácil acesso à educação se desenvolvem físico, cognitivo e emocionalmente melhor e, assim, estarão mais preparadas na vida adulta para enfrentar a concorrência no mercado de trabalho. O índice de capital humano cruza três fatores básicos: a mortalidade até os cinco anos de idade; os resultados na escola e as condições de saúde. Os dados são convertidos num índice variável de 0 a 1, a pontuação máxima. A escala conseguida pelo Brasil foi de 0,56 - pouco acima da média numérica, o que está refletido na sua classificação geral: a 81ª entre 157 nações.

O que isso significa? Que aos 18 anos de idade aquelas crianças nascidas agora deverão atingir apenas 56% de sua capacidade produtiva. As limitações individuais cerceiam a sua integração ao mercado de trabalho e fazem cair o potencial produtivo do próprio País. Um dos mais graves obstáculos ao desenvolvimento do capital humano é a deficiência educacional, também agravada pelo pouco tempo de escolaridade.

O objetivo do Banco Mundial, com sua iniciativa, é alertar os governantes sobre a imperiosidade de investirem na educação, para incrementar o potencial de desenvolvimento das gerações vindouras através de programas e ações que devem ser estabelecidos e iniciados no presente. Utilizado pela primeira vez e tendo como referência 2017, o novo índice foi apresentado num encontro que reuniu principalmente ministros de Finanças, para enfatizar que esse problema tem de ser enfrentado pelos países de forma mais abrangente e não setorial.

O anúncio desse índice e da posição do Brasil na classificação aconteceu em plena campanha presidencial de segundo turno. Os dois candidatos escolhidos no primeiro turno estão engalfinhados em discussões que passam ao largo do tema educação. Aliás, nada mais antipedagógico do que a propaganda eleitoral veiculada!

Seria uma boa hora de mudar o tom e o conteúdo demagógicos, para se falar do que é mais importante. Pouco se conhece das propostas dos candidatos para a educação, a não ser de que eles pretenderiam rever pontos específicos do plano da Base Nacional Comum Curricular. O documento, aprovado no ano passado, ainda está em fase de implantação de suas diretrizes pelas escolas públicas e particulares. Pelos discursos dos candidatos, a educação não é prioridade.


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