... E a história virou fumaça!

Na esteira das desgraças que se abatem sobre o Rio de Janeiro, nem a História nacional escapou. Triste, muito triste o espetáculo do Museu Nacional, no Palácio de São Cristóvão, ardendo em chamas, na trágica noite do domingo que passou! O imponente prédio situado no parque da Quinta da Boa Vista, que abrigava o museu fundado ainda pelo príncipe regente de Portugal, Dom João VI, abrigava um patrimônio de aproximadamente 20 milhões de itens.

A maior parte da História do Brasil ali guardada virou fumaça, como os remanescentes do esqueleto de Luzia (o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas), peças herdadas da família imperial e todo o acervo mobiliário do Primeiro Reinado. Segundo a vice-diretora do museu, apenas uns 10% foram preservados.

A instituição, criada em junho de 1818, ocupava o Palácio de São Cristóvão desde 1892. Além de ter sido a residência de um rei e de dois imperadores, o local foi ainda o da assinatura da declaração de Independência, pela princesa Leopoldina, esposa de dom Pedro I, em 1822, e da primeira Assembleia Constituinte da República, entre 1890 e 1891, marcando o fim do Império.

Desde 1946, o Museu Nacional, que detinha a maior coleção de meteoritos do País, é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Aos membros da família real deve-se o início da formação do acervo da instituição, inclusive no ramo da paleontologia.

Pesquisadores que costumavam realizar estudos no museu disseram que, ao completar 200 anos, em 2018, o prédio encontrava-se abandonado. Sinais de má conservação, como paredes descascadas e fios expostos, mostravam ao público a precária situação. Era, de fato, uma tragédia anunciada, principalmente após o corte de 50% no repasse de verbas federais às Universidades.

Com o incêndio, virou cinzas o maior acervo de história natural e de antropologia da América Latina, muitas coleções iniciadas ainda no século XVIII. Sem dúvida, perdas irreparáveis para a história e cultura nacionais, como sempre desamparadas por seguidos governos. Um golpe e tanto para o Brasil! Lamentável, sob todos os aspectos.

GILSON BARBOSA - Jornalista