Dom Pelé

Sim, é verdade! Já houve um dom Pelé. Nos arredores de João Pessoa-PB, em sua arquidiocese, ele vivia e trabalhava como um modesto vigário do interior. Levava para aquele lugar a verdade de um Deus tão simples como toda aquela gente que se reunia para ouvi-lo nos encantadores sermões. Tratava-se de dom José Maria Pires, a quem, muito carinhosamente, os outros chamavam de dom Pelé. O apelido lhe surgiu por volta de 1962, quando Pelé, no auge da fama, a meio percurso entre as duas copas, concederam-lhe o título de bicampeão mundial, tempo em que fazia gols como nunca, partida após partida. Por essa época acontecia uma reunião de bispos em Curitiba. O plenário estava reunido, faltando apenas as presenças do mulato dom José Maria, de Araçuaí, e do gordo dom José Vicente Távora, de Aracaju, atrasados por quaisquer motivos. Logo que adentraram à sala, um bispo brincalhão comentou: "Agora podemos começar a reunião. Finalmente estão chegando o Pelé e o Feola... " Dom Vicente, por conta disso, não passou a ser dom Feola, porém, desde aquele momento, dom José ficou sendo tratado por dom Pelé. E assim era chamado pelos colegas, toda vez que se reunia a CNBB.

Muito jovem ainda, com apenas 38 anos de idade, foi nomeado bispo. Nascera em Córregos, Conceição do Mato Dentro-MG. De origem humilde, juntamente com 9 irmãos viveu a infância e parte da adolescência na oficina de carpintaria do pai. Os estudos religiosos, fê-los, com aplicação, no Seminário de Diamantina, terra-berço do grande JK. Era vigário de Curvelo quando o papa o escolheu para bispo de Araçuaí. Até então, sua vida se desenrolara em trabalhos pastorais no seu Estado natal. Ao chegar à Paraíba, foi que José Maria Pires viveu os melhores dias da atuação como ministro de Deus. Ao tomar conhecimento de sua nomeação para Araçuaí, o notável cearense, então arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, feliz com a notícia saiu da capital pernambucana, viajando 120 quilômetros para, pessoalmente, ir anunciar ao povo daquela região a chegada do novo bispo, que não era outro, senão dom Pelé.

Roberto Ribeiro - escritor e lexicógrafo