Do que o Brasil realmente precisa?

Muitas são as lamentações do povo brasileiro envolvendo a política, a economia, o desemprego, entre outras questões. E isso não é à toa. Todos os dias nos deparamos com um amontoado de dados que não são dos melhores. Porém, há indicadores que deveriam receber maior atenção, pois referem-se ao que, em minha concepção, é solução primária de muitos dos problemas que assolam o nosso País - a Educação. Isso, considerando os avanços de nações que investiram (e investem) mais pesadamente em educação.

Ela precisa urgentemente de resgate. Os indicadores relacionados ao tema representam um "pedido de socorro". De acordo com a média geral da última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que avalia jovens de 15 e 16 anos em 70 países, o Brasil aparece nas últimas posições, com um baixíssimo desempenho: 63ª em matemática, 58ª em leitura e 65ª em ciências. A situação fica ainda mais crítica quando vemos os dados de uma pesquisa realizada por um professor e especialista do Insper e da USP, que aponta que 61% dos brasileiros não conseguem chegar até a última questão da primeira parte da prova.

Além da deterioração que há no Brasil em termos de sistemas e formatos educacionais, há um grave problema sociocultural. Quem nunca ouviu frases como "para que estudar se consigo me sustentar só com um trabalho?" ou "ficar estudando a vida inteira não me leva a nada". Eu, infelizmente, já ouvi muitas vezes e, em todas elas, fiquei impressionado com a desmotivação estampada na face de quem pensa dessa forma. Mas de onde vem esse sentimento?

Um Programa Internacional de Avaliação de Alunos, realizado pela consultoria McKinsey, evidenciou alguns fatores que possuem influência direta sobre o baixo desempenho escolar dos alunos. Foram ressaltados a falta de incentivo, as deficiências em relação à orientação do professor, o formato das aulas, a jornada escolar e - aí está ela - a falta de motivação, citada por 29% dos alunos. Um exemplo a ser considerado é o dos Estados Unidos, onde os formatos educacionais mais estimulantes envolvem estratégias bem pensadas, inovação e tecnologias das mais diversas, como games e aulas com elementos que desenvolvem a motivação e a vontade de aprender.

Diante desses dados apresentados sobre a educação básica, muitos podem se tornar críticos com questões a respeito dos avanços, concluindo que a escola poderia e deveria evoluir junto com a sociedade. Talvez o bom senso sugerisse pensarmos dessa forma. Entretanto, essa teoria contribui para que a escola se adapte para uma vida moderna, mas de maneira defensiva, tardia, sem garantir a elevação do nível da educação. O impacto é verificado no conjunto de cidadãos e na força de trabalho da nação.

Falando em ensino superior, uma projeção com dados do Inep e do IBGE pontuou que as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) de ter um terço dos jovens de 18 a 24 anos matriculados na graduação só serão alcançadas, dadas as tendências atuais, em 2037.

Assim, está estabelecido no Brasil o chamado analfabetismo funcional!

Por parte das escolas, é extremamente necessário rever seu formato e se atualizar em termos de tecnologia e inovação, buscando novas oportunidades e programas que favoreçam o desenvolvimento dos alunos, para realmente formá-los como cidadãos de uma nova sociedade e prepará-los para enfrentar o mundo afora com o conhecimento necessário, além de empreender e suprir as necessidades de um novo mercado de trabalho.

Em conjunto com a valorização da Educação, o Brasil também precisa de um árduo programa sociocultural, pois uma população desacreditada faz com que tudo se torne ainda mais difícil. O caminho ainda é muito longo. Mas não podemos deixar de acreditar que o nosso Brasil ainda será um país educado. Que cada um faça a sua parte. É preciso sustentação, apoio e suporte!

Edgard Cornacchione

Ph.D em Educação pela University of Illinois