Desumanidade

A sociedade, com suas mazelas e contradições, suas profundas injustiças, fabrica como subproduto de sua (des)ação a crescente leva de indivíduos sem alma e sem sentimentos humanitários, porquanto são capazes de matar, de roubar, de estuprar, nada lhes importando a gravidade dos delitos, quando tais ações satisfazem o objeto de seus desejos. Falsos desejos, falsos sonhos para quem nunca conheceu os freios inibidores da educação, da moral, da religião, mas conheceu larga e abundantemente o lado mais negro da vida, desde a infância sem pais, ou com pais viciados, e a violência, como uma redoma enchendo todo o espaço, sem lugar para o carinho e o afeto. A rua era o lar, o tabefe o carinho, a fome a companheira diária, e depois o iniciante caminho da droga para gerar sonhos e sensações nunca antes experimentados. No meio de todo esse quadro de desolação e de horror há os "agentes do crime organizado", cevados na miséria moral dos outros, eles mesmos miseráveis, pois contribuem para o agravamento da questão social e para a crise da falta de credibilidade das instituições.

Assistimos impotentes à incontrolável onda de crimes contra a vida e o patrimônio, quando um celular, um carro, um bem qualquer são o leitmotiv à prática delituosa. Sequer a juventude ou a beleza física de algumas das vítimas sensibiliza o algoz. Os graves crimes diários bem evidenciam o rosto doente da sociedade, a sua face oculta e perversa. É preciso ensinar a todos a lição evangélica: "Nem só de pão vive o homem..." Nem só no ter assenta-se a riqueza de uma nação, mas também no sentir e no dividir.

Eduardo Fontes - Jornalista e administrador