Desocupação persiste

Mais de 3 milhões de brasileiros estão em ininterrupta busca de emprego há mais de dois anos, conforme a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, referente ao segundo trimestre deste ano. Nunca antes um contingente tão grande de pessoas ficou por tanto tempo à procura de ocupação. É um dado assombroso, que serve para ilustrar de forma precisa a decadência no mercado de trabalho, cuja gênese foi motivada pela recessão econômica.

Há outras informações fornecidas pela Pnad que ajudam a compor o preocupante quadro. A taxa de subutilização da força de trabalho está em 24,6%, o que significa que falta trabalho para 27,6 milhões de indivíduos.

No Ceará, 1,3 milhão de habitantes está nessa situação. Tal indicador é mais abrangente do que a taxa de desemprego tradicional, pois inclui desocupação, subocupação por insuficiência de horas, além de contabilizar também aqueles que não estão em busca de emprego, mas estariam disponíveis para trabalhar.

No comparativo com o segundo trimestre de 2017, quando a subutilização era de 23,8%, a situação se agravou. Pode-se aferir que nem mesmo a sutil melhora na economia lograda no ano passado e a Reforma Trabalhista conseguiram dar fôlego ao emprego.

Tudo indica que o desemprego será um dos maiores desafios para quem assumir o Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2019. É, portanto, aconselhável que o eleitor examine as propostas dos postulantes para essa área. Em uma campanha na qual as pesquisas de intenção de voto trazem os candidatos muito próximos uns dos outros e um grande número de indecisos, os projetos acerca de temas cruciais podem ser decisivos.

Entre os principais concorrentes à cadeira presidencial, a análise comum é que o desemprego será reduzido com a adoção de medidas que tragam de volta a estabilidade econômica. Trata-se da mais óbvia constatação. O objetivo de voltar a gerar emprego está intrinsecamente relacionado ao desafio de amenizar o rombo fiscal da União, o que devolveria a tranquilidade aos investidores e impulsionaria o mercado de trabalho.

O problema é que a questão das contas públicas é extremamente espinhosa e não permite soluções simplistas. Deve-se desconfiar de propostas e promessas mágicas segundo as quais o déficit fiscal será rapidamente sanado. Colocar as contas públicas em equilíbrio será um processo árduo e deverá incluir algumas medidas impopulares, mas é improvável que esse aviso seja proferido pelos aspirantes à Presidência. Estes, com a campanha a pleno vapor, estão mais interessados em suavizar temas rugosos para se tornarem mais palatáveis ao público.

Para além das matérias de ordem macroeconômica, os candidatos traçaram em seus planos de governo ações emergenciais para reativar a abertura de oportunidades de trabalho. Retomar as obras de infraestrutura foi uma meta citada por alguns deles. De acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), existem 2,7 mil projetos no País, dos quais 517 na área de infraestrutura. A crise financeira e os escândalos de corrupção envolvendo grandes empreiteiras e políticos fizeram essa rubrica entrar em estado de coma, o que precisa ser revertido logo.

O longo período de inanidade do mercado de trabalho ameaça a sustentabilidade financeira das famílias. O País precisa realizar os ajustes e reformas para criar novamente uma atmosfera propícia ao pleno emprego.