Desarmamento dos espíritos


Para um país com altos índices de violência, principalmente devido ao uso de armas de fogo, permitir a posse de armas a título de defesa pessoal ou da propriedade, soa destoante da realidade do feminicídio, da morte de jovens em plena adolescência ou de chacinas diárias, provocadas seja pelos entreveros entre policiais e bandidos ou pelos conflitos dos bandidos entre si, quando, quase sempre, sobra uma bala perdida para um inocente. 

Permitir o porte de armas em casa ou no trabalho é uma solução paliativa e agravante do negro quadro de insegurança vivenciado pelo País, porquanto seria mais prudente combater o tráfico de armas pesadas ou não nas fronteiras brasileiras ou de onde venham, pois as armas, inclusive as pesadas, como metralhadoras, passeiam livremente nas mãos de celerados e são mostradas nos noticiários da TV, quando das execuções sumárias de desafetos. 

Não é esse o caminho para a construção da paz. A construção da paz e da diminuição dos índices de violência passa, necessariamente, pelo desarmamento dos espíritos, hoje aguerridos e intolerantes por razões políticas e ideológicas.

Uma arma predispõe o indivíduo a usá-la com ou sem motivo, além de se tornar campo fácil para a ação de bandidos, agravando ainda mais o quadro de insegurança, pois não só matarão os portadores de armas, como aumentarão o seu arsenal quando das investidas criminosas. A comparação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, equivalendo os perigos decorrentes da presença de uma arma de fogo em casa ao uso inadvertido de uma criança ao pôr a mão na hélice de um liquidificador, parece brincadeira, tal o despropósito da suposta equivalência dos riscos de um objeto de outro. Se o fizesse com relação ao risco de uma tomada elétrica, ainda seria razoável, mas trazer o liquidificador à cena é de um primarismo a toda prova.

Desarmar os espíritos é bem mais importante, a fim de haver mais tolerância de uns para com os outros no dia a dia.


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