De que lado você estaria?

A luta pela igualdade racial teve na recusa de Rosa Parks – mulher negra que não admitiu ceder seu assento do ônibus, àquela época reservado a pessoas brancas – um grande marco: os espaços públicos são de todos, independentemente de sua cor, gênero, religião, orientação sexual.

Em tempos como os atuais em que se vê tentativa de reformar o formulário de passaporte para que se exija a indicação de pai e mãe (ao invés de filiação, como ocorre atualmente), oportuno revisitar o exemplo de Rosa: hoje, a “maioria” enxerga o absurdo da discriminação que ela sofreu, mas à época, a “maioria” concordava em barrar-lhe o acesso ao banco do ônibus: a discriminação era aplaudida por “pessoas de bem”, pois negros “não poderiam ser iguais a brancos”.

Os políticos podem ter religião; a nação, não. Tanto que no Brasil, desde 1891, temos constitucionalizada tal separação e tal qual os espaços em ônibus, os espaços em documentos públicos não são propriedade privada ou religiosa, são de todos.

Há obrigação pública na proteção de todas as famílias que efetivamente existem (são reais, compõem o povo brasileiro) e não podem ser negadas ou ignoradas: apenas com mãe, apenas com pai, com pai e mãe, com duas mães, com dois pais. Com filiação no formulário (ao invés de pai e mãe), não há prejuízo para quem tem pai e mãe e nem se exclui quem não os tem: todos são contemplados. Defender tal restrição é discriminar pessoas e causar-lhe grande sofrimento (como o que Rosa passou).

Mas como a história humana é cíclica, se voltarmos no tempo de que lado você estaria: do lado que acha errado Rosa sentar-se com os brancos ou dos que entendem que ela pode lá sentar-se já que o serviço público também se destina a ela? E hoje, em que lado você está: o de que as políticas e os espaços públicos são de todas as famílias ou você aceita tal discriminação? Pense nisso!