Crateús no pódio

O essencial não é o pódio. O importante é o caminho da escalada. O importante é enxergar a aspereza da subida. Colher as escarpas e os ralos que fincaram na alma. Gilberto Freire traçando o perfil de Euclides da Cunha afirma que o nome do autor está intimamente ligado às agruras e os tormentos do deserto nordestino. Um povo forte e resistente às agruras da Caatinga. Um povo que enfrenta o deserto. Mesmo ciente de sua aridez. O nordestino resiste quando todos desistem. Resistem sempre. Clamam no deserto. Clamam pelo deserto. A poesia é a própria paisagem.

Estava eu na casa do Pe. Osvaldo Chaves quando ele perguntou sobre o poeta José Coriolano de Souza Lima. Um poeta crateuense que foi o Príncipe dos Poetas piauienses. Fez direito em Recife e foi juiz no Piauí. Foi o fundador da literatura do Piauí, sendo um dos fundadores da arcádia daquele Estado. Abelardo Montenegro filho de Crateús (1912-2010), foi membro da Academia Cearense de Letras. Um grande estudioso dos hábitos e dos costumes do povo sertanejo. Celibatário para se dedicar à literatura. O atendi nos momentos finais de sua vida. Foi de uma produção robusta e prolífica.

Nas suas letras se enxerga o punhal, o terço, a vida, a prece e a morte. Teoberto Landim morou em Crateús. Juarez Leitão de Novo Oriente é um filho adotado da terra. Adorado por muitos, tornou-se um homem do coração de todos. Thomas Hardy (1840-1928), poeta inglês, está enterrado na Abadia de Westminster. Não era feminista. Mas teve um olhar diferente sobre as mulheres. Com sua poesia abriu as portas para que elas conhecessem o mundo. Na sua poesia, o último vitoriano, tira a mulher das alcovas e as coloca na sala de estar. Estilo sóbrio, sua temática era a velhice, o amor e os desejos sexuais reprimidos. Cantava a mulher disposta e inteligente. A mãe que é decisiva no destino do filho. Mulher que pensa e faz a sua aurora. Que cultiva os seus amanheceres. A mulher que não se perturba com os crepúsculos dolorosos. Pois esta mulher chega ao pódio. Senhora dos seus próprios "eus". Ingressa na Academia Cearense de Letras uma mulher de Crateús.

A professora Laéria Fontenelle carrega a paisagem dura de nossos sertões. Chega com seu próprio talento, neste templo sagrado do saber. Nascida em Monte Nebo, distrito agradável. Canto de profecia. Ficamos felizes. Ela ascende a este chão sagrado. Germinada no nosso chão. Estudou nas nossas escolas e sentou nos nossos bancos. Andou nas esquinas da nossa história. Da nossa alma. Bem próximo de nós. Junto ao nosso coração.

José Maria Bomfim de Moraes

Médico e mestre em Teologia


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