Contos

Os vencedores, na categoria conto, do 1º Premio Nacional de Literatura, promoção da Associação Brasileira de Magistrados e Academia Paulista de Letras, foram: "O Coveiro Valdemar", de Hélio David Vieira dos Santos (Santa Catarina); "O Informaticídio", de Vanilson Rodrigues Fernandes (Pará) e o nosso "Naus Frágeis" (Ceará), três estórias bem díspares, muito diversificadas, levado em apreço o nível da liberdade de criação, escolha do tempo e do tema, consoante os critérios de avaliação, dentro de um País vasto, criativo e continental como é o Brasil.

Na primeira classificação, Helio David apresenta a linha de um conto shakesperiano, com uma narrativa voltada ao humor pardo, não exatamente negro, mas escrita machadiana, penso, vez que o conto é direto, sem rodeios, porém, hilário. É a ficção de um coveiro (Valdemar) que esmera por um trabalho milimétrico, ao cavar as covas onde o caixão deve descer os sete palmos sem embaraços.

Mais ainda: o coveiro, acostumado às lapides e brocados inscritos sob pedras e mármores, sabia mais latim do que os dois advogados ali postados, em um enterro, os quais tencionavam fazer pilherias e gozações cujo intento redunda fracassado.

Vanilson Fernandes, na segunda classificação, constrói uma ficção baseada em personagem que não consegue se adaptar a realidades do mundo informatizado. Tem como servidor público um emprego garantido até quando passa a contar com ferramentas tecnológicas, obrigando-o a atualizar-se com as novas imposições do mundo moderno. Sem conseguir adequação, Avelino se suicida no próprio emprego.

A cabeça levemente inclinada para trás. Uma perfuração a bala bem no meio da testa. E, criativamente, do ponto de vista ficcional, uma tela de um computador que apresenta imagens rarefeitas de fumaça, girando e uma pistola fumegante ainda apontada no ângulo do servidor.

Em "Naus Frágeis" crio um personagem narrador, a partir de um fotógrafo acostumado a cumprir pautas jornalísticas sobre vários afundamentos de navios junto ao Porto Mucuripe.

Segundo Manfra Cabornieri, relator do gênero literário sorteado pela comissão julgadora, diz que adoto "uma reportagem quase onírica para relembrar tragédias que o mar encobre" através de "uma narrativa densa onde a história permanece viva, ainda que submersa".

Concluo depois de narrar muitas tragédias: "quem for da terra que permaneça firme porque o mar só respeita mesmo os deuses".

Durval Aires Filho

Desembargador


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