Conselho de anciões

O filósofo argentino Jorge Luis Borges dizia que o homem é um animal, mas que com o tempo, o animal vai morrendo e acaba restando somente o homem. Os mais velhos sempre exerceram na civilização um papel fundamental, pois com a experiência de vida auxiliaram, nem sempre com êxito, na construção das normas da sociedade. Ouvir a voz da experiência é uma sábia atitude, pois se evita cometer equívocos. No Oriente, quando não se tem um ancião para orientar os demais, tem-se que contratar um, dizem os orientais. Ainda hoje, em várias culturas, os prudentes e sábios anciões se reúnem periodicamente para decidir os litígios dentro das comunidades, bem como para transmitir as tradições culturais orais aos mais jovens. Essa cultura de "Conselho de anciões", ou Gerousia, remonta à antiga Roma, quando no pós-império romano, os eventos relacionados à sua comunidade eram decididos pelos sábios sacerdotes judeus anciões - suprema corte judaica judicial e legislativa, agora conhecida como Sinédrio - e incorporada por "empréstimo cultural" em outras culturas. Will Durant, no seu genial livro, "A História da filosofia", diz que a imaturidade o tempo conserta, sugerindo não ser anomalia a imprudência na juventude - fase em que se mete os pés pelas mãos e a prudência é apenas plano para o futuro. O tempo é cruel e o conhecimento empírico dos anciões - ou dos mais velhos -, não pode ser desperdiçado, pelo contrário, deve-se abrir os ouvidos para ouvi-los.

No sábio provérbio: "Se o jovem soubesse e o velho pudesse", sugere-se que, quando se sabe, já não mais se pode usar a informação adquirida com a experiência. Quando há questão em litígio entre os judeus, eles a levam para um rabino solucionar, pois os rabinos são reconhecidamente homens maduros e sábios, daí terem recebido o honorífico título e a decisão deles é respeitada. Na antiga Roma, Marco Pórcio Catão (Catão, o Velho) - 234-149 a.C. - notabilizou-se na defesa do "ros maiorum" (o costume dos anciões) que apelava para uma vida simples e com o respeito às boas tradições. O respeitado sábio judeu Hillel, o Ancião (60 a.C. - 9 d.C.) resumiu toda a Torá numa admirável regra de ouro: "Faze aos outros aquilo que queres que te façam", mas lamentavelmente esse conselho é pouco aplicado na contemporaneidade...

Luís Olímpio Ferraz Melo
Psicanalista