Combo, traumatologia e previdência

Acreditar que a saúde pública como um todo não funciona é um erro de observação. O SUS funciona, mas em áreas específicas, como tratamento do câncer, AIDS e vacinação. Muitos médicos poderão atestar que é melhor tratar pacientes nesses programas que na maior parte da rede privada do País. Mas o sistema tem suas ovelhas negras e o atendimento ao trauma ortopédico é com certeza uma delas. Apesar de termos agora um ministro da Saúde ortopedista, não conseguimos mudar essa realidade. A grande questão dessa negligência é que ela impacta diretamente no sistema previdenciário.

No Ceará, ano passado, 18 mil vítimas de acidentes automobilísticos ficaram com sequelas permanentes. Um exemplo - quando se faz o tratamento adequado e de prontidão na fratura dos ossos da perna, o paciente retorna a funções plenas aos 6 meses de pós-operatório. A mesma fratura operada após 14 dias pode não ter o mesmo resultado.

Temos um caldeirão perfeito, composto por sistema de transportes ineficaz; aumento do uso de motos, meio de transporte inseguro (um impacto a 60km/h corresponde a uma queda de 4 andares); parcela grande da população em fase economicamente mais produtiva submetida a lesões graves com sequelas incapacitantes; entre outros. Sobra tudo para o INSS.

Se analisarmos o Medicaid Home, sistema de financiamento em saúde para pessoas de baixa renda no EUA, atendimento ao trauma é o principal gasto em pessoas com menos de 40 anos. Quando se analisa o gasto com saúde incluindo o sistema privado deles, o investimento na ortopedia e traumatologia só perde para atendimento de doenças cardiovasculares. Saúde é importante para todos, mas a logística da gestão de custos é complexa em qualquer país do mundo. Se prioridades devem ser eleitas, é um contrassenso negligenciar o atendimento do trauma ortopédico em meio à atual preocupação com a reforma da Previdência.


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