Capitão Dourado

O patriotismo e o imaginário norte-americano criavam super-heróis para motivação pública. Em especial, durante a Segunda Grande Guerra, a ficção nas tiras de jornais, revistas em quadrinhos e cinema enaltecia os feitos incríveis daqueles personagens, como se representassem os compatriotas atuantes nos teatros de operações. No início de 1940, o repórter de rádio Billy Batson, escolhido pelos deuses, tornou-se deles representante na defesa do Planeta. Ao pronunciar Shazam - nome do líder do novo olimpo - transformava-se no Capitão Marvel -, o indestrutível defensor dos povos. Também conhecido como Capitão da Humanidade, detinha poderes ultra-humanos e atuava em prol dos mais fracos e do fortalecimento da justiça. Billy, sua identidade secreta, jamais poderia ser descoberta ou revelada. Um ano depois, eis o surgir de novo super-herói. Capitão América. Mais representativo do poderio militar, enfrentava e derrotava os nazistas. Suas façanhas assemelhavam-se às de Marvel. Conservava personalidade oculta e namorava Sharon Carter, a Agente 13, do Serviço Secreto. Reestilizado, em oitava caracterização, conserva o tradicional escudo de adamatium e vibranium, metais desconhecidos, mostrando-se hoje nas telas dos cinemas nacionais. Nós, a molecada da rua Antônio Augusto, nunca invejamos a turma do Tio Sam. Ali, na esquina de Fiúza de Pontes, tínhamos o nosso ultra-super-heroi. Real. De carne e osso. Padre Joaquim Jesus Dourado. O Capitão Dourado. Em verdade, esteve na Segunda Guerra e testemunhou a Batalha de Monte Castelo como capelão do Exército Brasileiro. Portava maleta de madeira, que se transformava em altar, conduzindo crucifixo, acitara, missal, patena, cálice, âmbula com hóstias, galhetos com água e vinho, pala, sanguíneo e manustério. Poderosa arma de fé confortante de nossos soldados da FEB. Nos anos 50, o víamos chegar em casa. De batina preta, em seu Citröen 15CV. E sair, com a farda do EB, para o Quartel da 10ª RM. Pedíamos a bênção e ele, sempre sorridente, nos abençoava, traçando no ar o sinal da cruz. Mereci a honra de tê-lo como celebrante de meu casamento, em julho de 1967.

Geraldo Duarte - advogado, administrador e dicionarista