'Brincadeira' intolerável

Já dizia Mário Quintana (1906-1994), gaúcho de belas poesias, frases curtas e muita sensibilidade, que "as crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade". Na realidade, toda criança física e mentalmente sadia leva muito a sério o momento de estar reunida com outras de sua idade, desfrutando momentos de alegria e prazer. Como, aliás, assim deveria também ocorrer com todos os seres humanos, nas diversas etapas da vida, em seus momentos de lazer e socialização com os que lhes são caros. Porém, com o advento das redes sociais, constata-se o desvirtuamento do que se pode chamar, para certas pessoas, de "brincadeira". É o que se vê agora, com um tal "desafio" que ganhou o nome de "quebra-crânio". Esse absurdo consiste numa sucessão de pulos entre três jovens colocados um ao lado do outro. Quem fica no meio, em determinado momento, leva uma rasteira simultânea dos demais, perdendo totalmente o equilíbrio e batendo brutalmente com a cabeça no solo antes que possa proteger-se da queda abrupta com os braços.

A Sociedade Brasileira de Neurologia lançou recente nota condenando mais essa prática covarde, surgida não se sabe onde, mas que se alastra rapidamente pelas redes sociais, insuflando muitos jovens a fazê-lo de forma temerária, sem avaliar suas consequências. A nota da SBN alerta que uma queda de tal forma pode levar a vítima ao óbito, pelo traumatismo cranioencefálico decorrente do brutal choque da cabeça. Lamento que atitudes imprudentes desse tipo possam causar satisfação a jovens egoístas que se comprazem com o sofrimento alheio. Uma jovem estudante, em Mossoró (RN), morreu em consequência do tal desafio, que pode levar, no mínimo, a sequelas como o comprometimento do desempenho cerebral, a fraturar vértebras ou prejudicar os movimentos do corpo. Portanto, é bom que se evite compartilhar vídeos que estimulem essa coisa e punir quem a pratica. Isto é intolerável!

Gilson Barbosa
Jornalista


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