Brasil pária

Um professor chamado Francisco de San Tiago Dantas veio no começo dos anos sessenta com uma ideia para as relações do Brasil com os outros países. Tratava-se na verdade de um conjunto de princípios.

Não era período fácil. Com o mundo perto de uma guerra nuclear entre as duas superpotências, o Brasil lutava ter um equilíbrio. O professor propôs que o País deveria nortear-se pelos seus interesses de desenvolvimento, sem que afinidades ideológicas o tolhessem. Também deveria apoiar a autodeterminação dos povos e os esforços de desenvolvimento. A isso deu o nome de Política Externa Independente (PEI).

A qual deixou fundas marcas na atuação do Brasil desde aquela época, salvo por pequenos períodos. Por exemplo, e ao contrário do que dizem certas lendas, o Brasil nunca antagonizou radicalmente os Estados Unidos, nem tampouco aderiu incondicionalmente a ele. A PEI inspirou uma atitude de nunca ceder nada sem pedir algo em troca, mesmo para os amigos.

Principalmente desde os anos oitenta, em coerência com a velha PEI, o Brasil tem adotado políticas mais ou menos consistentes em assuntos de raça, mulher, população LGBT e ecologia. Não é por acaso que a Conferência ecológica Rio92 foi onde foi. Esses temas dão prestígio internacional. A Política Externa conseguiu que o Brasil não fosse um país pária, hostilizado pela imprensa estrangeira e com suas autoridades a enfrentar manifestações assim que saem do País.

No entanto, com apenas quatro meses de Governo, o Presidente da República cancelou uma visita aos EUA devido a protestos de grupos LGBT e ecológicos. Nas últimas décadas, não vivemos em país malvisto. Estamos começando a fazê-lo agora.

Que essa situação de algum modo se reverta. Não é bom ser detestado – e isso vale tanto para pessoas quanto para países. E que o velho professor San Tiago não tenha sua herança desperdiçada.


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