Bolsonaro e a imprensa

Jair Bolsonaro, com suas virtudes, seus defeitos e seu estilo "presidente mesa de bar", soube captar o pulsar profundo da sociedade. Isso explica boa parte do seu desempenho. Passou como um tanque e arrasou o antigo mapa do poder: grandes partidos encolheram, velhos caciques foram pulverizados, antigas fontes desapareceram e a esquerda está literalmente no córner.

Bolsonaro, armado de uma comunicação polêmica, está nas manchetes, nas páginas de política e nas discussões midiáticas.

Isso é ruim ou bom para o seu Governo? É incompetência ou é jogada ensaiada? Será que tudo isso, aparentemente desconexo e incompreensível e até mesmo desagradável, faz parte de um jogo estudado, manifestação de uma estratégia pensada e implementada? É cedo para chegar a uma conclusão. 

Creio que muitas vezes o presidente esteja esticando excessivamente a corda. Mantém sua militância unida e motivada, mas corre o risco de perder o importante capital representado por aqueles que querem mais Governo e menos confronto, mais diálogo e menos conflito. O Brasil, não esqueçamos, é um País de consenso. Não foi só a roubalheira que fez água no projeto lulopetista de perpetuação no poder. 

Foi o cansaço provocado pela estratégia do "nós contra eles". No mundo da pós-verdade o que importa não é objetividade dos fatos, mas a força emocional das percepções.

O presidente da República corre o risco de perder a batalha das percepções. A equipe montada por Jair Bolsonaro é muito superior aos ministérios da era petista. Tem gente séria trabalhando. Claro, há a dúvida se os filhos mostrarão o seu tendão de Aquiles e o risco de indevidas tentativas de interferência na Polícia Federal, no Coaf, etc. 

Bolsonaro tem falado demais. Produz espuma inconveniente para sua própria imagem. Mas até o momento, é justo reconhecer, o presidente não cruzou a fronteira, não feriu a lei, a Constituição e os valores republicanos.

Carlos Alberto Di Franco

Jornalista


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