Bandeira a meio-mastro

A bandeira da esperança está mais comedida. Já não se agita aos ventos da demagogia. Foram tantas as desilusões e as perdas ao longo dos anos, as metamorfoses da vida, a lembrar os versos e a música de Raul Seixas. As perdas da inocência, marcando o fim da infância, as descobertas nem sempre boas da adolescência e as muitas cobranças da fase da juventude. Depois as constatações do adulto no conhecimento dos homens, e a chegada da terceira idade, com sua enganosa bagagem de lições de sabedoria. 

Nem por isso deixamos de cometer erros por atos e omissões, como ensina o catecismo, e de pedir perdão a Deus pelas faltas cometidas ao longo do caminho. Continuamos a ser um “eterno aprendiz da vida”, como afirma Gonzaguinha. O desejo tão estimulado de possuir e de enriquecer não nos seduziu. Seduziu-nos desde a mocidade o sonho de um Brasil próspero e desenvolvido, “gigante pela própria natureza”. Mas o mantra de “o país do amanhã” foi afastando para longe aqueles ideais tão queridos da juventude. As mentiras continuaram sendo gritadas dos altos escalões e a cada nova campanha política, com seus “salvadores da pátria”. Só os jovens envelheceram, não as falaciosas promessas e as práticas do fazer político. E adentramos o Século XXI com vergonhosos índices de imoralidade política e social. 

Diante de tão brutal constatação, como se há de trazer desfraldada a bandeira da esperança dos tempos de mocidade? Como se deixar levar pelos mesmos acenos mentirosos de ontem? Já vimos estes filmes e outros mais virão. A bandeira da esperança se cansa de ser iludida. Melhor trazê-la hasteada a meio-mastro, como forma de evidenciar a tristeza e a desilusão de milhões de jovens de ontem diante da perversa realidade dos indicadores sociais do “país do amanhã”. Acreditar nos jovens, é a única grande esperança da construção de um novo Brasil.


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