Autocuidado importa

Há mais de três décadas, a população brasileira é formada por uma maioria de mulheres. Elas são 51,7% do total de pessoas que habitam no País – uma diferença de 4,5 milhões de pessoas, que cresce a cada ano. Saindo do levantamento estatístico para a concretude da vida, a relação entre os gêneros é ainda mais desproporcional. O terreno da saúde é exemplo disso.

As mulheres são, disparado, as maiores usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Sua importância para a saúde pública, considerando apenas quem acessam estes serviços, se explica duplamente: por um lado, pela cultura de autocuidado que as leva procurar unidades médicas para seu próprio atendimento; e, por outro, por serem elas as principais mobilizadoras dentro das famílias brasileiras, sendo mais frequentemente as acompanhantes de crianças e outros familiares, idosos, pessoas com deficiência e amigos.

Desde 2004, o Brasil adota a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Foi construída a partir do diálogo com movimentos de mulheres de diversos setores da sociedade e se apoia em conceitos atualizados da área. Vai além da concepção antiga e restritiva que compreendia a saúde da mulher como ligada apenas às questões da maternidade ou à ausência de enfermidade associada ao processo  reprodutivo. Nestes casos, estavam excluídos os direitos sexuais e as questões de gênero.

Compreende-se, atualmente, a saúde da mulher como ligada e determinada por uma série de fatores sociais, econômicos, culturais e históricos. Levar em consideração estas variáveis potencializa um olhar capaz de compreender a heterogeneidade da população feminina. Afinal, acesso à informação, educação formal e melhores condições de vida, por exemplo, têm impactos positivos no bem-estar de qualquer pessoa.

A lista das principais causas de morte da população feminina mostra  quanto a compreensão da saúde das mulheres ligadas à reprodução é limitada e se encontra em descompasso com o real. Para elas, são mais fatais as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral; neoplasias, em especial os cânceres de mama, de pulmão e o de colo do útero; males do aparelho respiratório; e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, caso do diabetes.

Na quase totalidade destes casos, o diagnóstico precoce tem potencial de livrar a enferma das consequências mais graves destas doenças. Aqui, a ideia chave é o autocuidado. A palavra abrange todas as medidas que alguém toma para cultivar a própria qualidade de vida. Passa, portanto, de uma tomada de consciência para o próprio corpo e para a mente. Vai da adoção de hábitos saudáveis – indispensáveis, por exemplo, para se minimizar os riscos de doenças cardiovasculares – à atenção aos sinais que o organismo dá – e o autoexame de mama é um exemplo bem-sucedido disso, pois auxilia na detecção de uma enfermidade agressiva que, identificada cedo, tem bons potenciais de cura.

A adoção desta postura vai ao encontro da cultura feminina de estar mais atenta à própria saúde, assim como das demais pessoas. Deve ser estimulada e praticada, dado seus méritos evidentes e do sucesso de seu exercício na promoção de uma vida mais saudável.