As lições de Bolsonaro nos primeiros seis meses

Seis meses depois de tomar posse, Bolsonaro está recomeçando no papel de presidente. Mas não do zero. A troca de ministros, a manutenção de Sergio Moro no cargo, os gestos para os eleitorados ruralista e evangélico e o lançamento antecipado da sua campanha à reeleição são indicadores de uma forte correção de rumo, uma espécie de Bolsonaro 2.

No Planalto, o presidente fez duas trocas. Primeiro, indicou o general Luiz Eduardo Ramos como ministro da Secretaria de Governo, pasta agora responsável pela relação com o Congresso.

O presidente também nomeou o major PM da reserva Jorge Antonio de Oliveira Francisco para a Secretaria-Geral da Presidência, desbancado um general quatro estrelas. Uma das credenciais de Oliveira é ser amigo dos filhos do presidente. Foi funcionário do gabinete de Eduardo e sua casa era o pouso de Carlos em Brasília.

Estas ligações familiares são as primeiras lições aprendidas no primeiro semestre no Planalto. O presidente trouxe para sua assessoria direta ministros que conhece há tempos e amigos de seus filhos, qualidade ausente no demitido general Santos Cruz.

Presidentes mudam o ritmo de suas administrações conforme as circunstâncias. Itamar precisava de estabilidade política e a obteve quando colocou FHC na Fazenda. FHC demitiu Gustavo Franco do Banco Central para desvalorizar o real e perdeu o controle da economia. Lula aproveitou a saída de Palocci para tornar o Governo mais intervencionista. E a saída do mesmo Palocci transformou o Governo Dilma. Ao tirar os generais Santos Cruz e Floriano Peixoto do Planalto, Bolsonaro faz uma correção do mesmo padrão de importância dos seus antecessores.

Lealdade é a principal exigência deste segundo momento por dois fatores. O primeiro é a quase certeza do presidente de que o vice presidente, Hamilton Mourão, articula a sua queda. Isolar Mourão e mostrar comando sobre as Forças Armadas serão prioridades daqui para frente.

O segundo fator é que os bolsonaristas sabem que diminuíram de tamanho. Dos 58% de votos em outubro, a base de Bolsonaro se reduziu, grosso modo, a 33% do eleitorado.

Essa redução também vale para o Congresso. Mesmo com o general Ramos à frente da articulação, o interesse de Bolsonaro não parece ser o de conquistar a maioria. A missão do general Ramos é evitar o andamento de qualquer futuro processo de impeachment.

Mas e a economia? A intervenção do presidente na seara de Paulo Guedes, por enquanto, foi barulhenta, mas inodora. Só que o projeto da reeleição depende da retomada da economia em termos visíveis, com aumento de consumo, queda no desemprego e volta de investimentos. Não bastam números melhores de PIB baseados na exportação agrícola ou na redução da capacidade ociosa da indústria. O capitão precisa mostrar que foi capaz de produzir prosperidade ou senão será tragado pelo mesmo mau humor que afunda todos os políticos do Brasil desde 2015. O que hoje parece paz na relação Bolsonaro-Guedes, é apenas trégua. O Bolsonaro 2 precisava de uma economia mais pujante.


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