Ainda podia ser pior

Uma pessoa, hoje na paz de Deus, tinha como lema de vida uma frase muito personalista e filosófica, de como enfrentava os desafios do ato de viver. No leito da UTI, para onde fora levada, disse para o velho amigo médico: veja, doutor, aqui não me falta nada, estou sempre muito bem tratado por essas moças bonitas e prestativas. E concluiu, diante daquele quadro para muitos insuportável, com sua lição à vida madrasta: “ainda podia ser pior”. No amanhecer daquela noite – adormeceu. Quem por acaso lhe encostasse o ouvido ao peito, ouviria o eco longínquo de sua frase de estimação – “ainda podia ser pior”. Esta visão admirável, forma filosófica de enfrentar e de aceitar as contingências da vida, as mutáveis e, principalmente, as imutáveis, bem poderia ser transmudada para os dramas pessoais de cada um e para a realidade nacional. Todos, em uníssono, poderiam gritar: "Ainda podia ser pior." Ainda podia ser pior se estivéssemos a enfrentar uma guerra civil, como a Síria e outras regiões conflagradas. Se enfrentássemos tsunamis, terremotos, como o sofrido povo da Indonésia, ou ondas insuportáveis de frio, de 30 graus abaixo de zero, ou tempestades de vento, ou ondas mortíferas de calor, como as ocorridas na China e na Índia. Ou incêndios florestais das dimensões jamais vistas na rica Califórnia. Ainda poderia ser pior se o Brasil não fosse um continente e seu povo se visse obrigado a emigrar. Ou se estivéssemos sob um regime, onde a Palavra é silenciada. Ainda poderia ser pior, se o Brasil não conhecesse a alegria do futebol e do carnaval, e não contasse com a beleza de suas mulheres, de seus poetas e escritores. Se a Constituição não exaltasse o princípio da dignidade humana. Se Cristo e Nossa Senhora não pudessem ser exaltados e cultuados. Ainda poderia ser pior, se não houvesse uma esperança no final do túnel.


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