Ainda a corrupção

Rico arquivo documental de provas e de imagens de abusos cometidos, quando do cumprimento de transferências de presos ou de mandados judiciais contra a corrupção, poderá ser consultado amanhã pelos estudiosos. Cenas fortes e desnecessárias - como a ocorrida por ocasião da transferência do ex-governador Sérgio Cabral, televisionado com as mãos e os pés algemados, como se fosse um antigo sentenciado às galés. E mais recentemente – imagem do ex-presidente Michel Temer, surpreendido por intenso dispositivo policial, em rua de São Paulo, quando se deslocava no próprio carro. 

São atos descabidos e desnecessários, contando sempre com a presença de órgãos da mídia supostamente avisados para realizarem a cobertura das prisões ou dos deslocamentos do presos. Outros exemplos poderiam ser trazidos à baila, envolvendo figurões da política e do mundo empresarial, nestes tempos de incontáveis operações de nomes rebuscados. Para determinados tipos de crimes, envolvendo políticos, empresários, doleiros, empresas e outra imensa legião de larápios, seria bem mais inteligente o Estado atuar com expertise e não como carcereiro. Importaria mais devolver os altos valores ou o produto do enriquecimento ilícito.

Dar-se-ia, portanto, menos ênfase à prisão de fulano ou de beltrano e sim à devolução dos valores ilicitamente acumulados. Promovidas as devoluções com pesados ônus, inclusive quanto à sonegação de impostos, as empresas não precisariam ir à falência, nem os empregados ao desemprego. Os autores das falcatruas sofreriam medidas cautelares, já hoje adotadas: teriam bens arrestados, passaportes recolhidos, proibição de livre circulação e cassação política, dentre outras. 

O objetivo principal, repetimos, não seria o espetáculo midiático das prisões, mas a reparação ao erário dos valores provenientes das práticas criminosas.


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