A verdade e a falsidade

Os filósofos e os religiosos têm fascinação pela discussão entre a verdade e a falsidade. Para Nietzche, a falsidade fazia parte regular do caráter humano e a mentira essencial para a sobrevivência. Para o filósofo, o mundo é falso, cruel, contraditório, enganador. Precisamos mentir para viver. No Evangelho Jesus chamou Satanás de “o pai da mentira”. Quem é o mentiroso se não aquele que nega que Jesus é o Cristo? (João). Sigmund Freud afirmou que a culpa inconsciente de um mentiroso transpiram por todos os poros. Na Psiquiatria, mitômanos são aqueles que têm compulsão para mentir. Na esfera moral, em quase todas as épocas, têm surgido impostores simulando crenças religiosas envolvendo a ingenuidade e a ignorância popular. Na maioria dos criminosos, se encontra grande habilidade em mentir. Indivíduos cujas aventuras imaginárias e a falsificação da realidade podem ser natas, como os delinqüentes de Lombroso. Nos casos de “moral insanity”, problemas relativos à mentira e à simulação ocorrem no desenvolvimento evolutivo da criança condicionado a fatores psicossociais e genéticos. São rotulados como transtornos de conduta. Na primeira infância, a criança, na tentativa de distinguir a fábula da realidade, desenvolve atividades imaginativas e míticas com freqüência.

Pessoas anti-sociais relatam freqüentemente abuso ou negligência dos pais. Por não receberem afeto e carinho nos primeiros anos de vida tornam-se incapazes de exprimirem confiança básica e segurança nas outras pessoas. Constituem-se indivíduos difíceis de tratar. Não tendo o superego desenvolvido e com o sistema de valores alterados, vêem no exercício do poder prepotência, perseguição e crueldade sobre os outros. No comportamento anti-social ocorre um cruzamento dos fatores genéticos com os psicossociais. Em termos psicodinâmicos devido a uma falha no superego, os psicossociopatas não exibem ansiedade e sentimento de culpa quando praticam crimes.

As motivações sociais mais comuns para a mentira são evitar culpa e responsabilidade legais, obter benefícios de Previdência ou financeiros, posse de droga, negócios e atividades ilícitas. Pesquisas sobre mentiras e simulações revelam mais êxito entre os mentirosos que têm a arte de representar, os mais inteligentes, engenhosos e histriônicos fortemente emotivos. Entre estes existem frases consagradas: “Doutor, eu lhe mentiria?” Para ser bem franco”. O contato visual e a expressão facial são importantes indicadores da mentira. Isso não corresponde sempre, pois crianças aprendem muito cedo fingir e esconder emoções. Mentira ou visão esquizofrênica da realidade? O comportamento anti-social e o crime ameaçam o bem-estar do indivíduo e da sociedade. Com larga freqüência e intensidade, constituem problemas de segurança pública. Em princípio, deve-se diferenciar se existem nos diversos casos transtornos psiquiátricos ou não. Embora o comportamento anti-social seja reconhecido desde os primórdios da história, somente no início do século XX foram formulados conceitos específicos relacionando insanidade moral e mental.

A maioria dos médicos não concorda e acha uma violação da relação médico-paciente chamar de mentiroso um paciente avaliado. Durante séculos têm sido usadas medidas psicofisiológicas para diferenciar o embusteiro do honesto. Entre beduínos e chineses a técnica era a medição da saliva. O método mais contemporâneo para medir a reatividade psicofisiológica do mentiroso sob estresse é o polígrafo, com confiabilidade em torno de 80% a 90%. O uso do polígrafo não é aconselhável nas avaliações forenses. Na avaliação da mentira, pessoas ansiosas, porém honestas, podem apresentar resultados falso-positivos. Sociopatas experientes enganam o detector com ingestão de benzodiazepínicos, mantendo sempre o corpo rígido, praticando meditação profunda ou treinando discursos e orações diante do espelho. Ou cantando futilmente para os incautos com gestos e expressões labiais e faciais bizarras.

Aproximadamente 18% das pessoas conseguem manter certas mentiras invioláveis, mesmo após a hipnose ou o soro da verdade (amital sódico), cuja prática teve iniciação com os nazistas evoluindo entre polícias secretas de grandes países. Os mentirosos ou impostores bem-sucedidos podem se manter inflexíveis a vida toda. Eles estão por aí. Vamos mencioná-los? Falsos profissionais, falsos amigos e falsos parentes abraçados com a arte mítica desenhada através de um mundo irreal e traiçoeiro. Muito cuidado com eles. Falsos políticos. Que podem levar uma nação ao precipício, à convulsão social ou à miséria. Exemplos na América Latina. E os bons e verdadeiros políticos? Constituem a grande maioria, graças a Deus. Principalmente políticos cearenses com honestidade, dignidade, capacidade, tenacidade, talento e tradição aptos a assumirem a Presidência da República. Estadistas. Vamos nominar? Oportunamente. Ave Brasil.

Josué de Castro
Médico e professor