A liturgia do Padre Bertulino

Do ledor crateuense Raimundo Alves Viana escutei relato curioso e hilário, motivador deste artiguete. Omito a denominação do município e substituo o nome real do clérigo citado, por óbvio.

Em cidade cearense, diferente daquela onde nasceu o narrador, na segunda década do século passado, o pároco da pequena igreja foi o padre Bertulino.
Rechonchudo, estatura mediana, calvo, tez branca, corado, muito gentil, sempre alegre e brincalhão conquistava amizades e fazia-se querido dos moradores.

Apreciador dos pratos caseiros, comumente era convidado para almoços, jantares e merendas nas casas dos paroquianos e, às vezes, nas festividades populares e nas bancas do mercado público. Adorava panelada e buchada ali servidas.

Suas eucaristias nunca se fizeram enfadonhas ou cansativas. Caracterizavam-se pela curta duração, em face do rápido sermão e trato do Evangelho do Dia.

Assim, objetivando mais aligeirar a celebração, perguntava: “Vocês sabem qual o Evangelho de hoje?”.

Ao ouvir o “não” dos participantes, completava: “Como não sabem, será em vão falar sobre algo desconhecido!”.

Igual interrogação na semana seguinte e o escutar de um “sim” uníssono. De imediato, falou: “Ah! todos conhecendo, desnecessário comentar!”.

Com fim de entontecer o vigário, os fiéis combinaram que os ocupantes de um lado, responderiam “sim” e, os do outro, responderiam “não”, quando o sacerdote lançasse a indagação costumeira.

E, tal, aconteceu na eucaristia do domingo posterior. O “sim” e o “não”, ao mesmo tempo e sonoramente forte, ecoaram no templo e foram ouvidos até no pátio. O eclesiástico, com a tranquilidade desconsertante possuída, olhou para as laterais e com semblante de alegria, abriu os braços em louvor e afirmou: “Maravilhoso! Divino! Vou encerrar a missa, mas vocês permaneçam no santuário e os sabedores ensinem aos que não sabem! Assim seja!”.


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