A liturgia do cargo

Quando ocupou a Presidência da República, após a morte traumática de Tancredo Neves, José Sarney costumava utilizar o termo “liturgia do cargo” para descrever o comportamento de um político dentro de certos limites, no exercício dessa atividade. De fato, espera-se de um presidente da República que se porte digna e respeitosamente, na prática de suas funções. Infelizmente, porém, não é o que temos visto nas falas do atual ocupante do Palácio do Planalto, que tem proferido extensa verborragia escatológica nas últimas semanas, ofendendo jornalistas e outros setores da sociedade, de forma gratuita e desrespeitosa.

Chegou a ser ridícula a atitude do chefe da nação ao sugerir, diante da imprensa, que cada cidadão fizesse suas necessidades fisiológicas dia sim, dia não, contribuindo para a preservação ambiental. Em mais de uma ocasião, o mandatário agiu de maneira acintosa, ironizando, com piadas sem graça, certos fatos, ou até ridicularizando pessoas que não comungam com o seu estilo de governar.

Há quem ache tal atitude normal, embora, para qualquer cidadão de bom senso, tais manifestações nada tenham de elegantes. São, sim, absurdas, incompatíveis com a função presidencial. Agora mesmo, diante dessa situação de descontrole na Amazônia, com dezenas de milhares de focos por todos os estados da região e até dos países vizinhos, o chefe do Governo só resolveu agir, enviando até as Forças Armadas para a região, depois de muita pressão internacional. Para ele e muitos de seus eleitores, é “normal” ver a selva arder, pois, diante de sua visão estreita e tosca, desde muito as queimadas são realizadas naquela área estratégica do País. Nada justifica, porém, a destruição da biodiversidade brasileira! Esperemos, pois, que doravante o presidente se porte com mais compostura e elegância, nesta e noutras situações, de maneira mais adequada à dignidade do cargo para o qual foi eleito.


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