A literatura é racista?

Quantos livros você já leu neste ano? Você lembra qual era a cor do autor de algum desses livros? Certamente, se tratava de alguém branco. Sim, a literatura brasileira é feita, em sua maioria, por pessoas brancas, mesmo sendo os negros mais de 54% dos brasileiros, segundo o IBGE.

De acordo com a professora de literatura da Universidade de Brasília (UnB), Regina Dalcastagnè, que chefiou em 2013 pesquisa com o objetivo de traçar o perfil dos escritores brasileiros, 93,9% deles são brancos. O estudo mostra ainda a segregação do povo negro dentro das obras: apenas 7,9% dos personagens são negros; 5,8% são os narradores; 20,4% são representados como bandidos ou contraventores; 12,2% são empregados domésticos; e 9,2% são escravos. Há uma dificuldade histórica no Brasil, herança de três séculos de escravidão, de ser o negro o protagonista de discursos, essa é uma triste realidade nas universidades, no mercado de trabalho, na política e também na literatura. Recentemente, a Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, chamou a atenção de todo o Brasil ao provar que uma foto histórica do escritor Machado de Assis usada em seus livros foi embranquecida para deixá-lo menos negro. Tentar mudar um pouco essa realidade é um dos objetivos do Projeto de Indicação N° 204/2019, de nossa autoria, que cria em Fortaleza o Estatuto Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que em seu artigo 14 trata da criação de campanhas que divulguem a literatura produzida por autores negros, que reproduzam suas histórias e tradições. 

O Brasil é o primeiro país do mundo com a maior população negra fora da África, quase 86 milhões de pessoas. Incentivar uma literatura produzida por negros e com negros em papel de destaque é necessário para a construção da nossa identidade como brasileiro.
 


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