A cidade pede plantas nativas

Há 11 anos, o então estudante de biologia Marcelo Freire Moro fez um inventário das árvores existentes nos espaços públicos dos bairros Benfica e Jardim América, em Fortaleza, catalogando 2.075 espécies. Descobriu que a grande maioria era exótica, ou seja, foi trazida de fora do Brasil para cá, desvalorizando nossa flora nativa.

São exemplos a Pitombeira (Talisia esculenta), Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus): ipê-amarelo-do-cerrado (Tabebuia aurea), ipê-branco (Tabebuia roseoalba), Pau-branco (Auxemma oncocalyx), Oiticica (Licania rigida), Oiti (Licania tomentosa): uma das poucas árvores nativas cultivadas em Fortaleza. Joazeiro (Ziziphus joazeiro): ótima sombra e frutos que alimentam as aves. Muito rara na arborização de Fortaleza, Carnaúba (Copernicia prunifera): árvore símbolo do Estado do Ceará, Decreto nº 27.413/2004, no governo Lúcio Alcântara.

Frondosos e ostentando um verde escuro em suas folhas protegidas por espinhos, assim estão enraizados e já crescidos pés de juá, joazeiro ou juazeiro, plantados em vários canteiros centrais da zona leste da cidade. Não é a melhor espécie para arborização. Mas é um sinal do não às exóticas.

Em março deste ano, no lançamento da Festa Anual das Árvores, capitaneada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), tendo muitos colaboradores, o secretário Artur Bruno lembrou a Lei Estadual 16.002/2016, cuja Instrução Normativa lista espécies nativas para florestar e reflorestar o Ceará. Voltando ao Decreto nº 27.413/2004, temos que louvar a iniciativa daquela Pasta que, plantando mudas de carnaúba e acolhendo esta planta como espécie símbolo do dia da festa, valorizou e renovou sua história para tantos que compareceram e outros que visitaram nos dias seguintes curiosa exposição.

Merece aplausos o Órgão e as empresas privadas que participam do projeto do plantio de 109 mil espécies nativas no Ceará, já iniciado. A realidade é vista, a olho nu, até pelos indiferentes à questão. Quem não contemplaria uma avenida linearmente arborizada com carnaúbas no seu canteiro central? E suas vantagens? Beleza, harmonia, o verde constante, pouca sujeira, raízes profundas e resistência a secas?

Temos um exemplo ou um campo de demonstração: contemplemos primeiramente as palmeiras imperiais, sem vida, raquíticas, amarelas e até mortas no entorno do Centro de Eventos do Ceará. Compare com as viçosas, porém poucas, carnaubeiras no mesmo jardim!

O registro está feito. Que vença a compreensão da importância simbiótica do trinômio: árvore x meio urbano x homem. E que a zelosa manutenção da nossa flora tenha o afinado olhar técnico dos engenheiros agrônomos dos órgãos responsáveis e da população, a mais beneficiada.

José Flávio Barreto de Melo
Engenheiro agrônomo