A agenda política da Segurança

O ingresso de agentes da segurança pública na política institucional cearense explica, em parte, a sistemática da montagem e formulação da agenda das políticas do setor nas últimas legislaturas estaduais. A visibilidade que a violência adquiriu no Ceará e a histórica baixa representação no Legislativo estadual de integrantes da categoria policial convergiram, ao longo do tempo, para um inusitado sucesso de candidaturas policiais. O capital político acumulado por candidatos militares em um curto período de tempo foi o combustível para o desenvolvimento de um lobby policial consistente.

O establishment político local foi pressionado por esse grupo a atender demandas históricas da categoria, como a concessão de reajustes salariais, a reestruturação de carreiras e a implantação de uma cultura de concursos públicos regulares. É importante reconhecer isso como uma compensação histórica com uma instituição que, a despeito dos tropeços, trabalha diuturnamente pela segurança pública do Estado.

O crescente interesse de setores historicamente estranhos à categoria policial na proposta de iniciativas voltadas à segurança pública é um forte indício da consciência do papel político das polícias no Estado. Aumentam as expectativas em torno de angariar dividendos políticos por meio da proposição da instalação de equipamentos públicos em territórios carentes deles ou de propostas simpáticas à categoria policial. Contudo, sem uma análise acurada dos problemas da segurança pública, dos custos e benefícios das alternativas propostas de resolução desses problemas, assume-se o risco de adotar mais improviso como solução para a pacificação social.

Nesse contexto, o desafio para a sociedade cearense é avaliar o impacto social das propostas políticas para os problemas da segurança pública e tornar transparente a relação custo-benefício dessas iniciativas. Nesse sentido, a universidade tem uma importante contribuição a dar, munindo a sociedade de esclarecimentos sobre temas que, comumente, desenvolvem-se à margem do amplo debate público.

José Lenho Silva Diógenes
Professor Adjunto do Departamento de Estudos Interdisciplinares da UFC


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