Voos da Avianca na Capital devem ser absorvidos por outras aéreas

Operações entre a Capital e Brasília, Rio de Janeiro (Galeão) e Bogotá foram encerradas. Frequências representam mais de 30% dos voos da companhia em Fortaleza. Empresa manteve apenas São Paulo e Juazeiro do Norte

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br
Legenda: A Avianca opera atualmente voos de Fortaleza para Juazeiro do Norte, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. De Juazeiro, a empresa opera para São Paulo e Fortaleza
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

Em meio ao processo de recuperação judicial, a Avianca Brasil cancelou 44 voos (pousos e decolagens) semanais de/para Fortaleza, a partir de abril. Atualmente, a empresa possui 144 operações por semana. Com o corte, o Aeroporto Pinto Martins perde mais de 30% das frequências da companhia brasileira. Segundo o secretário do Turismo do Ceará (Setur), Arialdo Pinho, as rotas descontinuadas devem ser absorvidas por outras aéreas. "A Avianca está falindo. Todos os incentivos para essa Companhia foram cancelados desde o dia 16 deste mês".

Além disso, o secretário afirma que os voos entre Fortaleza e Bogotá serão os mais difíceis para serem incorporados por outras companhias. "Mas nós vamos atrás de trazer outra empresa que possa fazer essa rota", comenta ele sem acrescentar quais possíveis aéreas poderiam assumir o trecho para a Colômbia.

"O mercado estará aberto. Os voos nacionais serão absorvidos imediatamente pelas demais companhias". Ontem (26), a Avianca anunciou o fim de diversas rotas, tanto domésticas quanto internacionais, entre elas, Fortaleza-Bogotá, Fortaleza-Brasília e Fortaleza-Rio de Janeiro (Galeão). A empresa também descontinuou outros trechos de/para o Nordeste, como Aracaju-Salvador, Salvador-Bogotá, Brasília-Maceió, Brasília-Salvador, Galeão-João Pessoa, Galeão-Natal, entre outros.

A redução do número de voos da Avianca deve impactar negativamente a movimentação no Aeroporto de Fortaleza. Em janeiro e fevereiro deste ano, a companhia transportou de/para a Capital 115.340 passageiros, uma redução de 8% em relação a igual período de 2018. Nos últimos anos, a Avianca tem registrado crescimentos sucessivos no número de viajantes. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aérea teve a primeira queda nestes dois meses desde 2011, quando 16,9 mil pessoas foram transportadas de/para Fortaleza.

Na Capital, a empresa manteve apenas as frequências para Guarulhos e Congonhas (São Paulo) e para Juazeiro do Norte, totalizando 100 voos por semana.

Preço de bilhetes

O momento é de preocupação e cautela para o trade. Para Paulo Neto, gerente de Lazer da Casablanca, os consumidores são os mais afetados. "Um player a menos é muito negativo para todo o mercado, não só para as agências, mas também para os passageiros. É menos uma opção para a viagem. Nós temos certeza que outras companhias devem aumentar em contrapartida a demanda delas. É muito provável que outras empresas assumam as rotas", considera.

Ele acredita que no primeiro momento o preço das passagens deve subir. "É natural que isso aconteça, mas em pouco tempo deve-se suprir essa falta de oferta. Isso é natural no mercado. Na hora que você faz a supressão de algum trecho ele acaba tendo menos concorrente e obviamente a tarifa fica mais elevada".

Neto lamenta o cancelamento da rota Fortaleza-Colômbia. "A descontinuidade do trecho para a Colômbia é o mais prejudicial, afinal de contas a Avianca vinha praticando esse voo há bastante tempo. Esse destino se consolidou muito no mercado de Fortaleza. Muitos cearenses viajaram neste voo para conhecer a Colômbia. Hoje, a gente tem outras possibilidades como a Copa Airlines via Panamá".

O presidente do Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares do Ceará (Sindirest), Moraes Neto, diz que os preços dos bilhetes para os destinos cancelados devem ficar mais altos, mas reitera que com o tempo isso volte ao normal. "O mercado vai regular isso até porque existe a grande possibilidade de abertura da participação estrangeira nas empresas nacionais. No primeiro momento teremos essa defasagem até porque a companhia vinha muito bem. Já se fala que outra empresa vai absorver esses voos".

Sobre o possível impacto negativo nos bares e restaurantes da Capital, Moraes Neto afirma que é mínimo. "Mesmo com toda essa atuação da Avianca a possibilidade de incremento desses voos em outras companhias vai naturalmente existir. Não é um impacto muito determinante".

Para Eliseu Barros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-CE), a redução dos voos é muito ruim. "Porque diminui a oferta de voos, diminui a malha aérea, a oferta de assentos do destino e isso termina encarecendo as passagens. Então a gente espera que existe uma sinalização da Azul para assumir esses voos".

Companhia discute devolução de aviões

A Avianca realiza hoje (27) uma audiência para discutir com os arrendadores a devolução amigável de aeronaves. Há meses os arrendadores tentam executar ordens de arresto que, no momento, estão congeladas por decisão do juiz da recuperação judicial. Um embate, entretanto, está em andamento na Justiça desde a semana passada, quando a Avianca informou que não estava cumprindo os pagamentos de leasing e outros compromissos, condição para que a suspensão dos pedidos de arresto fosse mantida.

A conversa com os arrendadores é um passo essencial para que a companhia garanta certa tranquilidade nas conversas com credores e com seus potenciais compradores/investidores. Na sexta-feira, a Avianca vai apresentar pela primeira vez a proposta da Azul aos credores tentando garantir sucesso na operação de venda dos ativos.

A Avianca, excluindo os arrendadores, tem R$2,5 bilhões em dívidas, a maior parte com fundos ligados à administradora de recursos norte-americana Elliot, detentora de cerca de R$2 bilhões em dívidas. A dívida dos arrendadores soma mais de R$500 milhões. Até o momento, a Azul manifestou intenção de levar a Avianca, num modelo que envolveria a aquisição por R$404 milhões de uma Unidade Produtiva Isolada (UPI), contendo parte de sua frota e das autorizações de pousos e decolagens. O negócio precisa, entretanto, do aval dos credores, da Anac e das arrendadoras das aeronaves.

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