Turismo otimista com competição entre aeroportos no Nordeste
Secretários afirmam que os trabalhos de Aena, Fraport e Vinci devem trazer mais visitantes e que o Ceará tem a ganhar com isso. Já especialistas avaliam que a espanhola não deve trazer "nada de especial" para o setor
O resultado do leilão de aeroportos realizado ontem (15), no qual a empresa espanhola Aena Desarollo Internacional arrematou o bloco com seis terminais no Nordeste, entre os quais o de Juazeiro do Norte e Recife, deixou representantes do turismo do Estado bastante otimistas.
Além da expectativa de que haja mais voos internacionais para o Ceará, é esperada um avanço na qualidade dos serviços aeroportuários e melhores taxas para os passageiros.
"É muito importante para o Nordeste ter grandes players europeus operando na região. E é muito bom que Juazeiro do Norte tenha se beneficiado dessa participação espanhola", disse Arialdo Pinho, secretário do Turismo do Estado.
A partir de agora, os aeroportos dos três principais destinos do Nordeste serão administrados por grandes grupos europeus: Fortaleza com a alemã Fraport, Salvador com a francesa Vinci, e Recife com a espanhola Aena Desarollo.
Sobre os impactos do resultado para a região do Cariri, Arialdo Pinho acredita que a operação da Aena em Juazeiro do Norte pode impulsionar o turismo da região. "É importante que a gente transforme o Nordeste. O Cariri tem importância para o mundo, com um potencial turístico enorme tanto para o turismo cultural como histórico", defende.
Mais uma entrada
Já o secretário do Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, destaca o crescimento do fluxo de passageiros no Estado, com o incremento de voos, partindo de Juazeiro, tanto para Fortaleza como para Jericoacoara.
"Se Juazeiro entrar num processo de modernização, do mesmo jeito que Fortaleza entrou, Juazeiro vai ser mais uma porta de entrada para o destino Ceará, porque não existe turismo sem estrutura", observa.
Sobre uma possível concorrência entre as empresas europeias por voos internacionais, principalmente entre Fortaleza, Recife e Salvador, Pereira considera que a disputa será positiva, fazendo com que as empresas busquem focar na melhoria dos serviços.
No mesmo sentido, Heitor Studart, presidente do Conselho Temático de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), acredita que a competição entre Fraport, Vinci e Aena deverá impactar no preço das tarifas aeroportuárias, beneficiando os passageiros.
"Pensando no valor das tarifas, a competição é salutar", ele diz. Quanto aos investimentos esperados para o terminal de Juazeiro do Norte, Studart comemora: "Esses novos investimentos darão um grande impulso para a região. Os investimentos naquele aeroporto foram feitos há mais de 20 anos e o Governo Federal não tinha capacidade de investir mais".
Concorrência acirrada
Para o especialista em Direito Aeronáutico, André Soutelino, a tendência, agora, é que cada vez mais Fortaleza se consolide como um centro de conexões (hub) do aliança Skyteam, com GOL, Air France e KLM, enquanto Recife concentre os voos e conexões da Azul e TAP para destinos na Europa.
Por outro lado, ele vê os aeroportos de Fortaleza, Salvador e Recife disputando espaço no mercado norte-americano. "Apesar do Nordeste atrair mais o turista europeu, caberá aos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia fazerem campanhas na América, porque o fluxo de americanos vai aumentar também".
Um especialista em aviação civil, que preferiu falar sob anonimato, afirma que Fortaleza não deve perder espaço com a chegada da Aena em Recife e em outros terminais do Nordeste. A entrada de outro player internacional no Nordeste deverá apenas elevar o nível de concorrência local, mas não deverá impactar negativamente os esforços para o hub aéreo em Fortaleza, da Air France/KLM e Gol.
Contudo, segundo o professor de Transporte Aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício do Espírito Santo Jr., a chegada da Aena não deverá revolucionar os processos no Aeroporto de Juazeiro ou nos outros terminais arrematados no bloco do Nordeste.
Respício pondera que os grandes players do mercado internacional ainda não se interessaram pelo Brasil, devendo entrar em leilões posteriores de aeroportos maiores.
O professor da UFRJ ainda compara, de forma bastante crítica, a atuação da Aena, no seu país de origem - a Espanha -, à da Infraero no Brasil, uma vez que a Aena é uma empresa estatal espanhola. "A Aena não vai trazer nada de especial, muito pelo contrário, até porque ela é a Infraero da Espanha. Ela vai trazer o comum para o mercado local", avalia o professor.