Trabalho doméstico no CE acelera com crise; informalidade cresce

Desde 2014, o número de empregados domésticos no Estado cresceu em ritmo três vezes maior que o de ocupados. Cenário foi impulsionado pela perda de postos de trabalho no Ceará nos últimos anos

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.Mesquita@svm.Com.Br
Legenda: Trabalhadores voltaram ao serviço doméstico com o fechamento de vagas

O avanço do trabalho doméstico ganhou novo fôlego no Estado como alternativa de ocupação, revela estudo elaborado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT). Nos últimos cinco anos, o volume de domésticos cresceu em ritmo três vezes maior que o total de ocupados no Estado.

É o que ressalta o analista de Mercado de Trabalho do IDT, Mardônio Costa. Ele lembra que no primeiro trimestre de 2014, haviam cerca de 235 mil pessoas atuando no serviço doméstico contra os 271 mil registrados no segundo trimestre deste ano - dado mais recente divulgado. Nos três primeiros meses de 2019, o número de trabalhadores domésticos locais foi recorde, quando somaram 284 mil.

O analista explica que a perda de cerca de 99 mil postos de trabalho formais em 2016 no Ceará, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), e o recorde no número de desempregados no primeiro trimestre de 2017 (560 mil pessoas), conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram os fatores que impulsionaram a retomada do emprego doméstico.

A pesquisa, que utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, revela que desde 2013 a modalidade de trabalho vem em constante crescimento, que se acelerou após o início da crise econômica no Brasil, em 2015. "Chegou um momento em que as pessoas não queriam mais serem trabalhadores domésticos. Queriam atuar na indústria, no comércio, em qualquer outro setor. E o momento econômico permitia isso a partir de uma boa geração de emprego. Com a crise, essas pessoas acabaram voltando ao serviço doméstico", afirma Mardônio Costa.

Informalidade

Um dos pontos de alerta sobre a atuação dos trabalhadores desse segmento é o nível de informalidade. O analista do IDT aponta que, também com a crise, o orçamento das famílias ficou mais apertado, o que contribuiu para que mais pessoas aceitassem oportunidades sem carteira assinada nesse segmento.

Atualmente, dos 271 mil trabalhadores domésticos no Estado, 84,5% (229 mil) estão na informalidade. Apesar disso, a parcela atual que possui vínculo formal com seus empregadores - cerca de 15,4% - é maior do que há cinco anos. No segundo trimestre de 2014, apenas 13,4% dos trabalhadores domésticos tinham carteira assinada.

Rendimentos

A alta informalidade também reflete sobre o baixo nível de remuneração da categoria. De acordo com a pesquisa do IDT, o trabalhador do segmento doméstico ganhou, em média, R$ 595,50 por mês no primeiro semestre deste ano no Estado. Para aqueles que possuem vínculo formal, o valor pode chegar a R$ 1.078,50, enquanto os informais recebem apenas R$ 511,50.

"A informalidade impõe uma perda salarial de cerca de 50%. Para completar, a média de rendimentos do Ceará dessa categoria é similar ao do Nordeste, mas inferior à media nacional, de R$ 901", ressalta Costa.

Ele ainda aponta que esses ganhos no Estado têm diminuído nos últimos cinco anos. "Em comparação com o rendimento real de 2014, quando a média era de R$ 620, esses trabalhadores estão perdendo cerca de 5%. Ou seja, não houve recuperação do rendimento médio de antes da crise".

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