Setor produtivo cearense repudia proposta de corte de verbas do Sistema S

Representantes de segmentos da indústria, agronegócio, transportes e cooperativismo do Estado preveem grandes perdas para a cadeia produtiva se a proposta do futuro ministro da economia, Paulo Guedes, seguir adiante

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart, classificou o plano do próximo Governo Federal de cortar recursos do Sistema S de 'precipitado'.

"Há uma precipitação do ministro (Paulo Guedes) no que diz respeito ao pensamento, principalmente, quando ele diz que pode cortar 30% a 50%. Ele demonstra claramente que não tem nenhum fundamento na sua cabeça. Ele não tem um estudo pronto para poder dizer isso. Eu acho que ele foi precipitado. Para esse pensamento poder prosperar, ele vai ter que fazer uma reforma constitucional mudando o status quo montado há mais de 50 anos", acrescentou.

De acordo com Studart, os recursos que vão para o Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) são garantidos pela Constituição. "São instituições que prestam seus serviços há mais de 50 anos. O Sesi, na parte de saúde e segurança do trabalho. O Senai, na parte de educação e formação de executivos. Então, eles já cumprem muito bem o papel a que foram destinados", destacou.

O presidente da Fiec ainda reforçou que as verbas que o Sistema S recebe não vêm do Governo. "Isso é uma coisa muito importante para se ressaltar. São recursos que são destacados na nossa guia de imposto. O Governo tem apenas a missão arrecadatória. Nós destacamos 5,8% no nosso imposto do INSS que vai direto para o Governo, que repassa o que nós destinamos. O Governo fica com 3% do que nós pagamos para ter esse trabalho de arrecadação".

Ambas entidades ligadas à indústria caminham com percentuais de pelo menos 100% de sustentabilidade. "Na parte do Sesi, nós temos hoje em torno de 109% a 110% de sustentabilidade. E no Senai, nós estamos com 100%, ou seja, aquilo que entra no nosso caixa para que a gente possa dar retorno em forma de ensino - o que nós recebemos, nós gastamos com os professores, com os equipamentos, com a manutenção da própria instituição. Não existe nenhum recurso de Governo para essa finalidade", esclareceu.

Ele ainda afirmou que as duas instituições possuem forte presença no Interior do Estado. "Nós temos uma base em Fortaleza, Sobral, no Cariri e temos uma base na região de Tabuleiro do Norte. Nós não somos uma empresa geradora de lucros, nós somos uma empresa de serviços. Não temos esse negócio de lucro, temos uma sustentabilidade, você tira uma sobra que lhe permite investir dentro da própria instituição".

Repercussão

As entidades ouvidas pela reportagem não concordam com os possíveis cortes de recursos. Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flavio Saboya, a redução de verbas para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) deve prejudicar principalmente os agricultores familiares cearenses.

"O nosso S é diferente dos demais - 80% dos recursos do Senar são por lei investidos na capacitação. A nossa arrecadação não decorre de nenhuma verba que saia do governo para fazer esse trabalho. O recurso é aplicado para atender o trabalhador rural", explica.

Segundo ele, os cursos do Senar são inteiramente gratuitos. "Essa é uma determinação legal. Nós não cobramos um centavo para dar um curso. Nós pagamos toda a capacitação que ele faz, disponibilizamos alimentos no decorrer dos cursos para esses produtores. É exatamente por isso que nós temos grande esperança que essa medida lastimável venha a querer ser implantada, que o Senar possa justificar a permanência dos seus recursos".

Infográfico sobre o Sistema S no Ceará

 

Prejuízos à população

O presidente do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Ceará (Sescoop), João Nacélio, reiterou que o maior prejudicado com a medida de cortes é a população.

"Principalmente, o pessoal com menos condição de se capacitar e se formar profissionalmente para o mercado. O sistema S foi criado para dar essa oportunidade para essas pessoas que estão fora do mercado. Se isso acontecer (os cortes), vão reduzir os recursos para serem aplicados na atividade fim".

Ele explicou que a entidade faz a capacitação dos funcionários, associados e seus familiares de cooperativas do Ceará. "O grande diferencial do Sescoop é que ele trabalha na formação da pessoa na área de cooperativismo, de gerenciar um negócio coletivo. É muito mais específico. A gente trabalha a formação da pessoa no cooperativismo".

Qualidade de vida

Por meio de nota, o Sest e Senat reforçou que desempenho e a qualidade de vida dos trabalhadores do transporte estão diretamente ligados às duas entidades.

"O Sest Senat é responsável pela qualificação profissional de todos os trabalhadores do transporte no Brasil, tais como motoristas de ônibus, caminhoneiros e taxistas, entre outros. Em 25 anos, foram prestados mais de 126 milhões de atendimentos 100% gratuitos. Só em 2018, foram prestados, até setembro, 8,6 milhões de atendimentos. Na área de saúde, o Sest Senat oferece especialidades como fisioterapia, psicologia, nutrição e odontologia, áreas de maior demanda dos trabalhadores do transporte e onde o SUS pouco alcança".

Já o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Social do Comércio (Sesc) não se posicionaram sobre este assunto até o fechamento desta edição.

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