Setor de rochas no CE perde US$ 1,5 mi com falta de navios

De acordo com o Simagran-CE, está travado nas empresas do Estado o equivalente a 100 contêineres

Escrito por Ingrid Coelho - Repórter ,
Legenda: Setor de rochas ornamentais exporta granito em blocos e em chapas de dois e três centímetros. Estados Unidos e Itália são os principais compradores
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Um problema que já vinha sendo enfrentado há cerca de um ano por empresas que extraem e exportam rochas ornamentais se intensificou nos últimos dois meses. A falta de navios para levar os produtos do Porto do Pecém para fora do Brasil, especificamente para países da América do Norte, Ásia e Europa vem provocando descumprimentos contratuais com clientes de fora. Isso afeta negativamente a competitividade do Ceará e ocasiona um prejuízo que chegou a cerca de US$ 1,5 milhão para o setor só nos últimos 60 dias, segundo estima o Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Ceará (Simagran-CE).

O presidente da entidade, Carlos Rubens Alencar, avalia que a dificuldade trava o envio de carga equivalente a cerca de 100 contêineres, mas destaca que a produção nem chega a sair das empresas. "O material produzido nem chega a ir para o Porto, porque não tem navio. Ele nem sai das empresas. O prejuízo é enorme", diz. O setor no Estado exporta, basicamente, dois tipos de produtos: os blocos brutos e as chapas polidas com dois e três centímetros, sendo esse último segmento o mais atingido pelo déficit de transporte e o de maior valor agregado, segundo a avaliação de Alencar.

De acordo com dados mais recentes do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, foram enviados a outros países em agosto deste ano US$ 1.066.491 em granito talhado ou serrado, de superfície lisa ou plana. Quanto ao produto em blocos, segundo dados mais recentes (julho), foram US$ 139.789. No ano de 2018, foram US$ 7.779.966 e US$ 3.105.496, respectivamente. De acordo com Alencar, o setor de rochas ornamentais já exportou mais de US$ 16 milhões neste ano.

Segundo o presidente do Simagran-CE, os números ainda devem ser retificados e estão “distorcidos desde julho, quando começou a vigorar o novo sistema no site do Mdic”. “Nós percebemos o erro e o Centro Internacional de Negócios começou a conversar com o Mdic. Os técnicos do Ministério reconheceram que há um erro na plataforma”. De acordo com nota enviada ao setor pelo Mdic, a correção deve ser feita até o dia cinco de outubro.

Alencar detalha que os blocos brutos vão para o exterior dentro do navio fora de contêineres, no lastro da embarcação. A previsão é de que saia um carregamento desse material no próximo dia 12 de outubro com 7 mil toneladas para a Itália, mas ainda não há previsão para as chapas produzidas pelas empresas do setor no Ceará. "Provavelmente não teremos exportação nenhuma de chapas em outubro", diz.

Sofrendo com o problema há aproximadamente um ano ou mais, ele destaca que a estratégia adotada para contornar o problema é a cabotagem. O produto já vinha sendo enviado por navio para São Paulo e, do Porto de Santos, saía para outros países, o que eleva o custo do transporte (fica por conta do cliente) e torna os negócios locais menos competitivos ante o resto do mundo. "Agora não estamos nem conseguindo enviar para São Paulo. Isso é desgaste da empresa com o cliente pelo atraso e as empresas exportadoras se descapitalizam muito, porque o pagamento do material é feito cerca de 90 dias depois que a mercadoria chega no destino. O Pecém está a sete dias dos Estados Unidos", frisa Alencar.

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Importações

O problema decorre da queda de importações nos últimos anos, o que reduz o fluxo de navios, de acordo com Carlos Rubens Alencar. Ele diz que o setor tem contado com a parceria de grandes operadores portuários para complementar os envios de cabotagem. "É um setor importante na pauta de exportação e é algo muito preocupante. Precisamos ter esses fluxos de navios dentro de certa normalidade", diz.

O presidente do Grupo Imarf, que trabalha com limestone, quartizitos e granitos para exportação, Mendes Aragão, relata que a falta de navios, mesmo para a cabotagem até São Paulo, atrasou a entrega de carga para a Rússia. "Eu deixei de embarcar algo em torno de 50 contêineres neste mês por falta de transporte. Uma parte ia para os Estados Unidos e outra para Moscou, na Rússia. Fechamos um contrato para uma obra na Rússia que acabou atrasando e deixou os clientes muito chateados", diz.

Ele descreve a situação como "bem complicada". "É um contrato muito sério, uma obra grande (na Rússia) e depois desse atraso, como é que fica para conseguir outra obra como essa? Infelizmente não é nossa culpa, a nossa parte para entregar no prazo, nós fizemos, mas o navio não está a nosso alcance", lamenta.

No caso do envio de mercadorias para Miami, nos Estados Unidos, ele destaca que acaba levando em torno de 60 dias para fazer o envio. "Além da demora, o frete fica mais caro para o cliente. Se não tivéssemos que mandar para São Paulo, a economia chegaria a US$ 700 dólares". Aragão destaca que a situação difícil para enviar produtos ao exterior, no caso dele, já dura cerca de três anos. "A gente termina as encomendas em prazo recorde, mas não conseguimos enviar a tempo por conta da falta de navios", arremata.

Porto

Em nota, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) "informou que não possui ingerência na disponibilidade de navios no mercado, custo de frete e questões comerciais entre exportadores, importadores e armadores". Ainda de acordo com a nota, a companhia disponibiliza de infraestrutura e equipamentos adequados para a movimentação de cargas, "incluindo uma área reservada para o recebimento de granitos".

"O próximo navio de blocos de granito (Momi Arrow), está programado para a primeira quinzena de outubro e será carregado, inicialmente, com cinco mil toneladas do produto. Ao todo, no primeiro semestre deste ano, foram movimentadas 18.970 toneladas de granito através do Pecém", diz o Cipp.

Ainda segundo o Porto do Pecém, o equipamento dispõe de seis rotas regulares de cabotagem e duas rotas de longo curso. As rotas de cabotagem contemplam destinos nacionais e Buenos Aires, na Argentina. Já as duas rotas de longo curso atendem Holanda (Roterdã), Reino Unido (London Gateway), Alemanha (Bremerhaven e Hamburg), Bélgica (Antuérpia), França (La Havre), Portugal (Sines) e, no Brasil, Itaguaí e Santos.

Também são contemplados na segunda rota Estados Unidos (Nova York, Philadelphia, Norfolk, Charleston, Jacksonville e Port Everglades), Santos, no Brasil, Montevideo, no Uruguai e Buenos Aires, na Argentina.

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