Revisões em estatísticas oficiais põem em dúvida credibilidade de dados

Reportagem do Financial Times afirma que segunda revisão de números da economia pelo Governo lança dúvidas quanto à segurança das estatísticas do País, até então exemplo de pontualidade e transparência entre emergentes

Escrito por Redação ,
Legenda: Falha no sistema de coleta do Serpro levou a correções nos dados da balança comercial
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

A segunda revisão de números lançados pelo Ministério da Economia em menos de uma semana deixou analistas inseguros quanto à credibilidade das estatísticas brasileiras, revelou ontem (4) reportagem do Financial Times. Na segunda-feira (2), o Ministério da Economia informou que uma falha no sistema de coleta e transmissão de dados do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) levou a uma correção nos dados da balança comercial dos meses de setembro, outubro e novembro. 

Ao todo, a diferença entre os dados anteriores e os atualizados chega a US$ 6,5 bilhões. Na semana passada, os dados de novembro já haviam sido corrigidos. A divulgação incorreta foi um dos motivos da alta do dólar na semana. Após a correção, o déficit registrado de US$ 1,1 bilhão no mês virou um superávit de US$ 2,7 bilhões. 

Na terça-feira (3), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre deste ano e também a revisão dos números de 2018 e dos seis primeiros meses de 2019. 

O IBGE informou que os erros nos dados da balança obrigarão o Instituto a rever os números do último trimestre e que também houve erros nas divulgações do período de janeiro a junho 2019, o que já motivou a revisão do PIB desse período. A maior mudança foi a contribuição das vendas ao exterior, antes positiva em 1% no 1º trimestre, para -1,6%.

O economista-chefe para a América Latina do ING Financial Markets, Gustavo Rangel, disse à publicação que “os dados do PIB, embora melhores que o esperado, levantaram dúvidas entre alguns analistas devido a um número extraordinariamente grande de estoques de empresas, um indicador negativo para a atividade econômica”. Era possível, ele disse, que parte do estoque tivesse sido exportada, mas ainda não era possível saber.

Segundo a reportagem, as recentes revisões e a possibilidade de mais serem realizadas levantaram dúvidas pela primeira vez sobre os dados brasileiros, “há muito vistos como um exemplo de pontualidade e transparência entre os países emergentes”. 

Já Alberto Ramos, analista da Goldman Sachs em Nova York, disse à publicação que não há suspeita de que os dados tenham sido manipulados, mas que o incidente levantou preocupações. “Este é um erro grande. Acho que não há más intenções, apenas incompetência ou negligência no momento em que os mercados estão ficando preocupados com a erosão do comércio”, avaliou.

Insegurança

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a revisão de números da balança comercial gera “no mínimo insegurança”. “Não estou discutindo o mérito. O problema é que uma decisão no final de setembro e uma decisão no início de dezembro estão muito perto uma da outra para fazer uma revisão. Então ela gera no mínimo uma desconfiança e uma insegurança”, afirmou o presidente da Câmara.

Maia disse, porém, que acredita que a revisão não coloca em dúvida a credibilidade brasileira. “O trabalho é técnico, não há influência política, pressão para mexer no câmbio, segurar câmbio. Acho que isso é o mais importante, ninguém está segurando ou soltando câmbio para aumentar exportação, para mexer na economia”.

Cortes

O Assibge, sindicato dos funcionários do IBGE, atribuiu os constantes erros na divulgação de dados das exportações brasileiras pelo Ministério da Economia em 2019 aos cortes orçamentários feitos pela própria área econômica. 

“A falha nos dados da Secex pode ser resultado do processo da precariedade orçamentária e do desmonte do quadro de pessoal dos órgãos técnicos, processo que também vitima o IBGE e representa um risco real ao sistema estatístico nacional. Além disso, é preciso lembrar que o Governo pretende privatizar o Serpro e a destruição do órgão serve a esse propósito”, disse o órgão em nota.

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