Queda da Selic deve estimular crédito para setor produtivo

Com a taxa básica de juros na faixa mínima histórica de 4,5%, setores ligados à infraestrutura e aos mercados imobiliário e automotivo serão os mais beneficiados. Bancos já anunciam taxas mais baratas a partir de segunda (16)

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Mercado imobiliário será um dos principais beneficiados com o recuo dos juros
Foto: Foto: Kid Júnior

As taxas de juros cairão mais no Brasil. O Banco Central (BC) anunciou, ontem (11), novo corte da Selic (taxa básica de juros), que cairá de 5% para o novo recorde de 4,5% ao ano, confirmando as expectativas do mercado. Economistas avaliam que setores ligados à infraestrutura e aos mercados imobiliário e automotivo serão os mais beneficiados com a decisão. 

O Conselho de Política Monetária (Copom) justificou a decisão com o entendimento de que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração e que a retomada seguirá em ritmo gradual. Além disso, o comitê avalia que a inflação encontra-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Na decisão, porém, não se comprometeu com novos cortes.

Na avaliação do economista Alex Araújo, a longo prazo, a redução trará mais efeitos positivos a mercados que não oferecem tantos riscos a financiamentos. “(A queda da taxa) terá impacto principalmente para a área de investimentos do setor produtivo, como infraestrutura, que exige alto crédito. Já no imobiliário, vai ser percebido pelo comprador, porque o financiamento está mais acessível. E também para o automotivo, porque o risco das operações de crédito é menor”, explica. 

O impacto para os setores de comércio e serviços, além do consumidor final, pode demorar um pouco mais. Isso porque, na opinião de Araújo, as famílias ainda estão saindo de um período de inadimplên-cia, o que diminui o consumo.

“Essa redução causa poucos efeitos ao consumidor e às pequenas empresas. Estudos mostram que as famílias estão em um cenário de crise econômica, que gerou muitas dívidas e isso dificulta o acesso ao crédito”, argumenta. 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), inclusive, defendeu que a redução da taxa Selic diminui o custo da dívida pública e mantém o País no caminho de juros compatíveis com os padrões internacionais. A Confederação ainda pediu ações para repassar a queda da Selic para os juros pagos pelas empresas e pelas famílias ao contraírem operações de crédito. “É necessário avançar com mais celeridade na microeconomia das taxas de juros para promover a redução dos spreads e do custo de capital para as empresas”, reivindicou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, em comunicado.

Reação dos bancos

Logo após o anúncio do BC, instituições financeiras divulgaram corte de juros em algumas linhas de crédito. O Banco do Brasil, por exemplo, reduzirá a partir de segunda-feira (16), os juros de crédito automático e renovação, que passam a ter taxa mínima de 2,87%, e o crediário de 3,11% ao mês. A linha de imóveis terá queda de 1,34% ao mês para 1,3% ao mês, na mínima; e de 1,72% para 1,68%, na máxima. Na linha de financiamento de veículos, as taxas mensais passam a ser de 0,6% ao mês, para carros novos.

O Itaú também divulgou novo recuo nas taxas para clientes pessoas física e jurídica. Com isso, o banco repassará o corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica (Selic) para linhas de crédito. O Bradesco também anunciou que reduzirá os juros de suas principais linhas a partir de segunda, sem especificar linhas e taxas. 

Investimentos

A mínima histórica da Selic também afeta a rentabilidade da poupança e fundos de aposentadoria, entre outros investimentos. “Em relação aos investimentos, poupança e aposentadoria terão juro baixo. E esses investidores terão que fazer esforço extraordinário. Isso gera um cenário adverso para quem vive disso. Os fundos de pensão estão revisando outras as metas de rentabilidade por causa da taxa de juro. Ou, no caso, terão que fazer reservas maiores para ter o mesmo nível de conforto que o valor investido”, diz o economista Alex Araújo. 

Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), a caderneta é menos vantajosa que fundos com taxas de administração de até 1,5%, com prazo de resgate superior a dois anos. As modalidades empatam em rentabilidade nos casos de fundos com taxa de 1% para resgate em até seis meses; com taxa de 1,5%, em resgates entre um e dois anos; e com taxa de 2%, em resgate após dois anos.

O rendimento da poupança é de 70% da Selic mais taxa referencial (TR) que, no momento, é zero. Segundo a Anefac, com a Selic a 4,5%, a poupança rende 3,15% ao ano e de 0,26% ao mês. Apesar do rendimento baixo, a poupança é mais vantajosa que alguns fundos por não ter taxa de administração e ser isenta de imposto de renda (IR).

Devido à incidência do IR, aplicações em Certificados de Depósito Bancário (CDB), por exemplo, são mais vantajosas que poupança apenas quando rendem a partir de 85% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). 

Perspectivas

Para Araújo, o BC deve manter a taxa no próximo ano. “A principal variável que vai determinar isso vai ser o próprio desempenho da economia. Se houver um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o esperado, pode voltar a subir”, explica. 

O economista Ricardo Eleutério avalia que a medida ajudará a estimular a economia. “Como a inflação do ano deve ficar abaixo de 4%, isso permitiu fazer essa redução. Estamos com uma economia muito fria, com previsão de crescimento pequeno. Ao reduzir juros, você estimula consumo e movimenta a economia”.

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