Para evitar crise, construção espera liberação reduzida do FGTS

Segundo presidente do Sinduscon-CE, saque de parte dos recursos do Fundo deverá gerar impacto negativo em empresas do segmento de habitação popular, que não teriam sentido, ainda, os efeitos da recessão

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@diariodonordeste.com.br
Legenda: Com a redução do montante aplicado no Fundo, deverá haver a redução do potencial do investimento no setor
Foto: Foto: Divulgação

Enquanto o mercado aguarda o anúncio do Governo Federal sobre as condições de liberação do saque de parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o setor da construção civil no Ceará vem dialogando com o Ministério da Economia para que o projeto seja menor do que o previsto. A confirmação deverá ser feita ainda hoje, pelo ministro Paulo Guedes.

A justificativa do pleito feito pela representação local vem pela relação do objetivo do Fundo, pensado também para financiar obras de habitação e infraestrutura, sobretudo saneamento básico. No Ceará, no ano passado, foram contratados mais de R$ 1,26 bilhão de crédito imobiliário utilizando os recursos do FGTS.

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, a medida pode acabar desvirtuando o objetivo do Fundo, apontado como principal fonte de financiamento da construção de imóveis para as classes mais pobres. Montenegro também afirmou que sem os recursos do crédito imobiliário do FGTS, parte das construtoras poderá começar a sentir os efeitos da crise econômica no futuro próximo.

O presidente do Sinduscon-CE explicou que as empresas que vinham focando as operações em projetos habitacionais relacionados ao FGTS, como o Minha Casa Minha Vida, não enfrentaram a instabilidade gerada pela estagnação econômica. Com a redução do montante aplicado no Fundo, deverá haver a redução do potencial do investimento no setor. Montenegro ainda ponderou que a expectativa de impulsionamento do consumo pela liberação dos saques do FGTS pode ter um efeito pontual e passageiro na economia brasileira.

"Hoje, o maior financiador da construção civil é o FGTS, mas se o Fundo é usado para impulsionar o consumo, a medida acaba com a construção civil. Um setor que movimenta o Brasil, gerando empregos de forma dinâmica e rápida. Impulsionar o consumo traz um impacto pontual, como foi com (o ex-presidente Michel) Temer, que teve impacto, mas acabou logo em seguida", disse Montenegro.

Impacto

Durante o ano passado, de acordo com dados da Caixa Econômica Federal, instituição que administra o FGTS, foram registradas 7.649 operação de crédito imobiliário utilizando recursos aplicados no Fundo, no Ceará. Corroborando a afirmação do presidente do Sinduscon-CE, aproximadamente 92,97% do total das operações (7.111) foram realizadas para financiar unidades de habitação popular.

"Nós temos dialogado com o Governo e eles entenderam que seria um tiro no pé se fosse feito do jeito que foi anunciado antes. Eles ouviram a construção, então ainda há esse diálogo e com isso eles devem reduzir o montante de liberação dos saques", projetou Montenegro.

O presidente do Sinduscon ainda afirmou que, considerando o primeiro semestre de 2019, a busca pelas operações de crédito utilizando o FGTS aumentou em relação ao ano passado. Montenegro, no entanto, não soube precisar exatamente qual seria o tamanho dessa evolução.

Procurada para fornecer os dados referentes ao ano de 2019, a Caixa Econômica não respondeu as demandas da reportagem até o fechamento desta edição.

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