Sócio de construtora envolvida em calote, coreano não tinha experiência na construção pesada

Ao Diário do Nordeste, ele afirmou que aceitou o convite para ingressar na construtora Braco por ter identificado um “problema de administração na empresa, e não técnico”

Escrito por Redação ,
Legenda: A Braco foi uma das empresas que atuaram na construção da Companhia Siderúrgica do Pecém

Envolvida em investigação sob a acusação de ser uma empresa fachada da Posco Engenharia e Construção do Brasil, a Braco Construtora, constituída em 2012, ficou posteriormente sob o comando do coreano Jung Geun Park, conhecido no Brasil como Mário Park. Ao entrar como sócio na empresa em 2013, Park não tinha, entretanto, experiência no ramo da construção pesada e atuava como proprietário de um restaurante coreano no bairro Aldeota, conforme afirmou o próprio empresário à reportagem do Diário do Nordeste e também consta na sentença da 11ª Vara Federal da Justiça em primeira instância. O negócio envolveu inúmeras empresas cearenses e mais uma coreana, a Dongyang, para aluguel de maquinário e venda de insumos para a construção da Companhia Siderúrgica do Pecém. Atualmente, os cearenses amargam um prejuízo que gira em torno de R$ 100 milhões, segundo estima o próprio acusado.

De acordo com o documento, enviado à reportagem pelo Ministério Público Federal no Ceará, Park foi convidado para ingressar na Braco como administrador, mas acabou entrando no negócio com sociedade, à convite do antigo sócio-majoritário da empresa. Segundo o depoimento de Jung Geun Park, a justificativa se sustentava no fato de o anterior ocupante do cargo não estar “conduzindo seus serviços de forma adequada”.

No depoimento citado na sentença, Park afirma que “não aceitou a proposta de ser mero empregado da empresa em face da insegurança financeira, decorrente da possibilidade de ser demitido a qualquer momento” e “que aceitou se tornar sócio da empresa”, para exercer função de administrador, “contudo, se lhe fosse repassado o total de 30% (trinta por cento) das ações da empresa; que sua proposta foi aceita e desde então passou a ser sócio da Braco”.

Ao Juízo, Park afirmou que sabia que os trabalhadores recebiam valores diferentes dos que estavam anotados na carteira de trabalho e que “era a Posco (Engenharia e Construção) que aportava todo o dinheiro na Braco, desde o início, razão porque a Braco era uma empresa ‘de fachada’, para viabilizar a construção direta pela Posco E&C, sendo que sistema foi estabelecido para diminuir o custo trabalhista e tributário”, diz o depoimento na sentença.

Braço da Posco Inc, que é acionista da CSP juntamente com a Vale e a Dongkuk, a Posco E&C disse não querer se manifestar sobre o assunto.

'Problema de administração'

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Park afirmou que mora no Brasil há cerca de 30 anos. Questionado pela reportagem sobre ter aceitado de pronto o convite para ingressar na Braco, apesar da falta de experiência no ramo, ele disse que não estranhou a oferta. “Mas na época eu fiz algumas pesquisas na Braco e descobri que a questão era problema de administração, não técnico, uma vez que tinha mais de 50 técnicos coreanos trabalhando e havia muitas despesas desnecessárias”, disse.

Ele afirma ainda que, quando ingressou na construtora, as obras da CSP já estavam com 16% de conclusão. “Desse modo, eu vi muita possibilidade de reverter a situação da empresa", afirmou. Mas não deu certo. Hoje, somente a Braco está em débito, considerando credores e cofres públicos (impostos), de cerca de R$ 30 milhões.

Denúncia do MPF

Conforme reportagem publicada pelo Diário do Nordeste na última semana, o Ministério Público Federal ofertou denúncia em 2017 envolvendo a Posco E&C do Brasil e a Braco Construtora. Um parecer sobre a sentença foi protocolado nos autos em 16 de agosto deste ano, de acordo com o Tribunal Regional Federal da 5ª Região. De acordo com o TRF5, o caso está sob análise da Terceira Turma de Julgamento do TRF5. "Ainda não há previsão de julgamento desse processo”, diz nota enviada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados