Novo presidente da Fiec: Internacionalização de empresas do interior entre prioridades

Novo comandante do Sindicato da Indústria, Ricardo Cavalcante, pretende apostar na venda de produtos de cearenses para o exterior. A gestão também tem como meta multiplicar a presença da entidade em microrregiões do Estado

Escrito por Ingrid Coelho / Hugo Renan do Nascimento/ Armando de Oliveira Lima , negocios@verdesmares.com.br
Legenda: Segundo Cavalcante, novo Centro Internacional de Negócios da Fiec atenderá industriais de microrregiões
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Ricardo Cavalcante toma posse hoje (19) como novo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Em seu mandato à frente da entidade, ele diz pretender incentivar a interiorização da Fiec e estimular a internacionalização das empresas do interior. Dentre os maiores desafios que enfrentará estão o crescimento da indústria, que aguarda até o momento a conclusão das reformas em curso (da Previdenciária e tributária), e o aprimoramento dos setores que são tradicionais e estratégicos para o Ceará.

Você entra em uma gestão de continuidade, aclamada pelos sindicatos. Qual avaliação você faz desse momento atual da indústria?

Eu avalio como uma grande dificuldade. A indústria cearense, não muito diferente da indústria nacional, está passando por um processo de dificuldade há mais de quatro anos que a gente vem nesse processo recessivo, mas a gente está notando que tem sinais de melhora, então eu acredito que a partir de 2020 esses sinais, que essas posições vão começar a mudar. A gente já está vendo algumas indústrias vindo para cá, procurando negócio, aqui mesmo na Federação, nesses últimos 60 dias, a gente recebeu vários empresários, também embaixadores de outros países, e sempre vislumbrando novos negócios. Então a gente está em uma expectativa. O momento é muito difícil, continua difícil, mas a expectativa é boa.

A dificuldade é a falta do consumo. O desemprego. Essa é a grande realidade. Se hoje nós estamos com 13 milhões de desempregados, são 13 milhões de consumidores a menos. Isso realmente faz com que a indústria caia o seu consumo, então realmente o que está faltando é uma melhora do consumo e com essa melhora do consumo, toda a indústria realmente se reergueria.

O Estado passou por um momento de transformação com a chegada da CSP. Dentro deste contexto, que segmentos da indústria têm potencial de se desenvolver no Ceará? Como está o desenvolvimento da indústria 4.0 aqui?

Nós precisamos de todas as indústrias. As indústrias de base que estão aí fizeram todo o diferencial para a situação econômica do Estado hoje. Estamos falando da CSP que mudou o perfil do PIB e a área de exportação. É outro perfil. Nós também estamos trazendo a indústria 4.0. E estamos trazendo a indústria que é ligada à área de Tecnologia da Informação (TI) que são os cabos de fibra ótica. São várias indústrias e todas elas nós precisamos, como a indústria de base. Ela é importante. Todas as indústrias que estão hoje instaladas no Ceará estão dando equilíbrio que o Estado tem. Precisamos de novas que são as de base tecnológica alta, que exporta quase tudo. Nós estamos com os cabos de fibra ótica, que em dois anos serão 18 cabos. Nós seremos a segunda cidade do mundo com a maior quantidade de fibra ótica. Isso é importante porque novos negócios virão. Essa é a disrupção que está para acontecer dentro do Ceará. Nós temos também o Porto do Pecém que hoje tem a administração do Governo do Estado com o Porto de Roterdã. E com isso novas indústrias virão. Eu diria que todas são estratégicas, como a siderúrgica, energia e setor mineral. São várias coisas acontecendo e todas são importantes. Nós precisamos ter todas. Eu agradeceria se hoje a gente pudesse nos próximos cinco anos a gente tentar dobrar e eu acredito que muita coisa boa vai acontecer porque essas parcerias público-privadas com certeza gerarão bons negócios.

Que segmentos o senhor considera estratégicos para a indústria cearense?

Eu vejo que existem vários setores que irão crescer com maior velocidade, como o setor de energia. A tendência é cada vez mais crescer e mais setores deverão chegar, de acordo com a capacidade que o Estado vai oferecer. Nós temos o setor têxtil, o setor de calçados, de confecção, construção civil que é importantíssimo, talvez o setor que tenha o maior sindicato e é um termômetro que interfere em 20 sindicatos. Há a necessidade do governo em definir essas regras para que as empresas da construção civil possam voltar a trabalhar e a gerar emprego porque na construção isso vem numa velocidade muito rápida.

O que é preciso para a indústria cearense recuperar a trajetória de crescimento?

Eu acredito que as reformas. As três reformas: da Previdência, a reforma tributária e principalmente essa reforma do Governo, do tamanho do Governo. Eu não diria a reforma política, eu diria dos gastos públicos do Governo. Essa reforma é muito importante porque a gente precisa entender o tamanho do Governo hoje. E para isso acontecer, precisa também ser feita essa reforma, mas eu diria que a reforma tributária e a previdenciária.

A previdenciária seria a mãe das reformas. Ela já está no Senado, então achamos que até outubro, princípio de novembro vai ser feita uma votação final.

Quais as demandas que são conversadas com Governo Federal e Estadual?

O diálogo com os Governos Federal e Estadual existe e sempre existirá por parte da Fiec. No caso da parte de logística que são as estradas. A gente já entrou em contato com o governador Camilo Santana, e as obras já estão começando. O grande problema é que a gente está trabalhando e a estrada não está boa. É um gargalo grande. Eu espero que nos próximos 60 dias isso já esteja resolvido. A parte de logística dentro do Estado é fundamental tanto para quem quer importar quanto para quem quer exportar. Nós temos hoje uma quantidade boa de CEs (estradas estaduais), mas eu vejo que tem uma velocidade muito grande. O Estado tem que ter uma velocidade muito grande principalmente com a região do Porto do Pecém e esse entorno que é o anel viário onde está boa parte da indústria cearense. Eu acredito que dentro de 60 dias a deterioração das estradas já deva ter sido resolvida.

Eu enxergo que a cabotagem é importante, mas eu enxergo também que o Porto do Pecém chegou a um nível de paridade muito bom. Hoje nós estamos dentro do padrão nacional no que se refere aos preços, muito perto do Porto de Santos. Mas a gente precisa de mais volume. Porto é igual a um estacionamento e vejo que essa sociedade com o Porto de Roterdã com certeza trará novos negócios para a gente. Eu acredito que o nosso porto e aeroporto serão as duas grandes portas de entrada para os bons negócios que virão.

O senhor enxerga a possibilidade de menos indústrias se sentirem atraídas pelo Ceará com a reforma Tributária?

Essa guerra tributária existe em todos os estados, não é só no Ceará. O Ceará também tem a sua forma de atrair empresa. Mas o País todo tem. Então esse é um problema do País todo e não só do Ceará. O que a gente tem visto é que as propostas que estão no Congresso a gente está precisando é que elas sejam unificadas. No momento o que estamos discutindo? Estamos discutindo como é a partilha dessa reforma. O que fica com a União, com os estados e municípios. É a hora da gente, setor produtivo, entrar. A conta quem vai pagar é a gente. Precisamos saber se o que virá dessa reforma é uma redução tributária. Essa é a nossa grande demanda. O grande problema é que nós estamos discutindo janelas. Nós precisamos discutir o todo. Se discute a reforma Tributária aí vem alguém e fala em CPMF, outro que fala em cortes de impostos federais e estaduais. A gente precisa ter ideia de como ela será formada para que a gente possa defender esse trabalho.

Cogitou-se pelo governo federal, do ano passado pra cá, uma desidratação do Sistema S. Qual o papel estratégico do Sistema S?

Continuo com a mesma ideia do Beto Studart, porque o Sistema S, porque a gente que faz parte do Sistema S, que conhece, sabe o que a gente está fazendo, então eu acredito que a gente tem que mostrar mais ao Governo o que o Sistema S faz. O Governo por ser muito grande sempre tem muita coisa para olhar, mas o diálogo foi aberto, o diálogo está sendo feito e acho que o Sistema S é importantíssimo para essa retomada de crescimento. Para se ter uma ideia, todo o Sistema S do Ceará, nós qualificamos 1,5 milhão em 2018. Quando eu falo isso, eu falo Fiec, Fecomércio, Sebrae, Federação da Agricultura, Federação do Transporte e Cooperativas, então a gente faz um trabalho muito grande. E esse trabalho chega na ponta. Se você for olhar, por exemplo, todos os empresários, toda a qualificação profissional da CSP foi feita pelo Senac e a gente hoje tem um trabalho contínuo com a CSP, uma empresa de tecnologia 4.0 de ponta que nós atendemos todo dentro da demanda que foi pedida. É um trabalho importante, é um sistema mantido pelos empresários, não é dinheiro do trabalhador, é do empresário, mas acho que o diálogo já começou a acontecer e o Governo precisaria utilizar mais o Sistema S para diminuir o número de desempregados.

Qual a marca que o senhor pretende deixar na sua gestão? O que vai ser prioridade?

A marca que eu quero deixar é a Fiec poder ajudar o industrial cearense, que a gente possa discutir junto os nossos problemas para encontrar as nossas soluções e está unido cada vez mais. A unificação dos sindicatos é importante porque hoje a Fiec conseguiu fazer com que o Observatório da Indústria ajudasse os empresários a saberem de tudo que acontece no setor dele.

A gente conseguiu colocar o empresário numa visão diferenciada, no qual ele compreende o que ele precisa fazer para não brigar com o seu concorrente, mas sempre procurando o que o mercado quer oferecer.

E essa parte da internacionalização. Para mim eu acho que vai ser uma das coisas que eu vou investir e que eu vou jogar muito pesado. A gente tem indústrias hoje no Ceará que tem mil funcionários no interior onde tem 25 mil habitantes. A gente precisa auscultar essas pessoas e tentar levar esse produto dela para o mercado internacional. A gente precisa fazer esse link e isso é a Federação que tem que fazer. A gente ausculta a necessidade do empresário e vai atrás da solução. Eu acho que nos últimos anos o Beto tem feito isso. Gosto muito de diálogo e acho que ele é a solução.

O meu lado é brigar pela indústria, pelo que a indústria precisa e é capaz de fazer e transformar. Eu quero estar sempre aliado às mudanças e ter essa agilidade para mudar. A nossa meta para a nossa gestão é trabalhar diretamente com as novas macrorregiões. Hoje nós atendemos Juazeiro do Norte, Sobral e Limoeiro do Norte. Estamos querendo atender a região do Marco (região norte), Serra Grande (Ibiapaba) e Iguatu (Centro-Sul). E com isso a gente quer dobrar neste primeiro ano de trabalho e também fazer com que esses empresários dessas regiões entenderem um pouco mais o que a gente está fazendo na Federação para que a gente possa tentar vender os produtos deles a nível nacional mas também a nível internacional, que eu acho que seria a grande saída para o Ceará. A Fiec está montando uma estrutura dentro do Centro Internacional de Negócios para atender tanto os atuais industriais como também atender os industriais dessas regiões.

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