Na esteira da crise argentina, dólar sobe 1,110% e vai ao maior patamar em 3 meses

A vitória de Cristina Kirchner na prévia das eleições na Argentina fez o dólar fechar a R$ 3,9850

Escrito por Folhapress ,
Legenda: A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil e a crise econômica no país tem prejudicado as exportações brasileiras.

A ampla vitória da chapa kirchnerista nas primárias argentinas para a eleição presidencial surpreendeu investidores e derrubou os índices de mercado na Argentina nesta segunda-feira (12). Segundo a prévia eleitoral, o atual presidente, o liberal Maurício Macri, poderia perder a votação já no primeiro turno.

O cenário, tido como irreversível por analistas, derrubou a Bolsa argentina que despencou 37,35% e o peso, que desvalorizou 17%, o que contaminou o mercado brasileiro. 

No Brasil, o dólar teve alta de 1,110%, a R$ 3,9850, maior patamar desde maio. Durante o pregão, a moeda chegou a R$ 4,014. Já o Ibovespa, que no pior momento caiu 2,3%, recuou 2%, a 101.915 pontos. 

Após a intervenção do banco central argentino, a moeda americana freou sua valorização. A autoridade vendeu US$ 105 milhões em três leilões no início da tarde e aumentou a taxa de juros em 10 pontos percentuais, para 74% ao ano.

É a primeira vez que o banco usa suas próprias reservas para conter a desvalorização do peso desde setembro de 2018. Leilões de dólares nos últimos meses foram realizados usando fundos do Tesouro.

Após um pico de 62 pesos por dólar, a moeda americana perdeu força e terminou cotada a 53 pesos, segundo a Bloomberg. Uma alta de 17% em relação a sexta (8).

A Bolsa argentina não conseguiu amenizar a queda e recuou 37,93%, indo de 44 mil pontos para 28 mil pontos. 

Na sexta (8), o índice teve alta de 8% com a expectativa de investidores de que as primárias mostrassem uma disputa mais equilibrada entre as chapas.

A prévia, no entanto, indicou uma diferença de 15 pontos percentuais entre Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice. 

Com 88% das urnas apuradas Fernández liderava com 47,3% dos votos, uma vantagem de 15 pontos percentuais de Macri. 

"Kirchner adotou um modelo econômico que praticamente afundou a economia para a crise que ainda se encontra, nacionalizando empresas, manipulando dados oficiais e provocando repulsa aos investidores. O atual presidente Macri não foi capaz de trazer para a população o sentimento de poderia tirar o país dessa situação e o resultado disso veio nas eleições primárias. Diferente do que vimos no resto do mundo, onde o "shy voter" (eleitor envergonhado) elegeu governantes mais de direita (Trump nos EUA ou Bolsonaro no Brasil), na Argentina esse eleitor virou peronista", diz relatório da Rico Investimentos.

A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil e a crise econômica no país tem prejudicado as exportações brasileiras. Além da piora no vizinho ameaçar a balança comercial brasileira, investidores estrangeiros estendem a percepção de risco argentina para o Brasil, o que pode prejudicar o fluxo de capital do exterior.

Até a última sexta (8), o saldo de estrangeiros na Bolsa brasileira é negativo em R$ 4,7 bilhões. No ano, há déficit de R$ 15 bilhões.

"A principal questão agora é se Fernández vai mandar algum sinal de moderação para prevenir o colapso da moeda argentina e uma corrida aos bancos, que podem acontecer com a sua vitória", diz relatório do banco BTG Pactual

Ainda contribuem para um cenário de aversão a risco, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, desaceleração das economias Europeias e os protestos em Hong Kong. 

Neste fim de semana, o banco Goldman Sachs apontou que não espera uma resolução no conflito comercial antes das eleições presidenciais de 2020. A instituição também receia que a guerra entre EUA e China leve a uma nova recessão. 

Com temor aos efeitos do conflito, as Bolsas americanas também recuaram nesta segunda. Dow Jones caiu 1,49%, S&P 500, 1,23% e Nasdaq, 1,20%. O contrato do tesouro americano de 30 anos recuou 5,7% com a alta demanda por ativos seguros e foi para o menor patamar de retorno desde 2016.

Em Hong Kong, os protestos contra o governo chinês ocuparam o aeroporto e 199 voos foram cancelados. Em resposta, Pequim disse que as manifestações no território nos últimos dois meses começaram a mostrar "sinais de terrorismo", e pediu às autoridades para que exerçam "punho de ferro" ao abordar o que chamam de "crime violento" em Hong Kong.

A Bolsa de Hong Kong operou descolada de seus pares asiáticos e recuou 0,44%. Já o índice CSI 300, que reúne as bolsas chinesas de Xangai e Shenzhen, subiu 1,8% e a Bolsa japonesa teve alta de 0,44%.

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