Marcas cearenses se consolidam no Brasil e ganham espaço no cenário internacional

Conversa com idealizadores revela que a maioria das marcas começou com uma produção simples, possuindo poucos recursos financeiros

Escrito por Bernadeth Vasconcelos , bernadeth.vasconcelos@verdesmares.com.br
Legenda: Trabalhando tradicionalmente com peças de couro, Espedito Seleiro iniciou a marca própria há 60 anos
Foto: Foto: Divulgação

O empreendedorismo consolidou marcas cearenses que conseguiram reconhecimento e visibilidade no mercado de moda, através da identidade regional que seus produtos carregam. Em poucos anos, essas empresas conseguiram expandir a comercialização de artigos e se consolidaram como referência no Brasil e no exterior. As marcas Água de Coco, Espedito Seleiro e Catarina Mina conquistaram espaço entre concorrentes internacionais e elevaram de forma acelerada seu progresso. 

A maioria começou com uma produção simples, mesmo possuindo poucos recursos financeiros. É o caso da Água de Coco, que iniciou os trabalhos em casa há 35 anos, com produtos comercializados à mão, que até hoje carregam essa característica como um diferencial da marca. “Sempre fazemos coleções inspiradas no Ceará, com trabalhos feitos por rendeiras de comunidades cearenses. É algo que simboliza a nossa marca”, explica Renato Thomaz, diretor de marketing da Água de Coco. 

Ainda de acordo com Thomaz, a empresa tem registrado crescimento acelerado do faturamento anual, com focos específicos para fomentar as vendas. “Estamos mantendo bem a questão do varejo, relacionamento com o cliente e marketing para impulsionar ainda mais a marca. Mas estamos crescendo bem diante das dificuldades do mercado financeiro”, pondera.  

Legenda: A Água de Coco iniciou os trabalhos há 35 anos, com produtos comercializados à mão, explicou Renato Thomaz, diretor de marketing da marca
Foto: Foto: Rafael Alves

Em relação às dificuldades vividas ao longo da trajetória da marca, o diretor aponta que a comercialização dos produtos em outros estados foi um momento delicado. “Tivemos alguns obstáculos quando saímos de Fortaleza, uma das primeiras cidades que a gente entrou foi Rio de Janeiro, uma cidade que é tão praiana e bem desenvolvida. Foi difícil uma marca cearense entrar lá e se destacar. Mas conseguimos nos destacar pelo diferencial e qualidade dos produtos”, sinaliza Thomaz.  

Atualmente, a empresa mantém sua produção local no Ceará, mas já comercializa para todos os estados do Brasil, além de exportar para 17 países. “Tentamos participar de desfiles de moda, feiras para dar visibilidade. Além disso, também elaboramos campanhas publicitárias, todas as estratégias que fizemos, inclusive com visibilidade no mundo digital, contribuiu para a consolidação da marca”, comenta. 

Consumo transparente 

Legenda: A Catarina Mina, fundada por Celina Hissa, já comercializa bolsas artesanais para América do Norte
Foto: Foto: Divulgação

 Há 4 anos atuando no mercado de moda como uma marca consolidada, a empresa Catarina Mina já comercializa bolsas artesanais para América do Norte, Ásia e Europa. Mesmo com um desempenho econômico difícil em 2018, a companhia cearense conseguiu manter o crescimento estável em comparação com 2017. Hoje, o objetivo da marca é ampliar a rede de países que consome as bolsas e os produtos artesanais, através de propostas inovadoras no modelo de negócio. 

“A visibilidade da marca se dá pela nossa proposta inovadora através do projeto “Uma Conversa Sincera”, que já ganhou vários prêmios. E estamos engajados com a questão da transparência nos nossos produtos. Convidamos o consumidor a saber o que é que tem por trás dos produtos, toda bolsa nossa vem assinada pelo artesão que fez. São propostas que damos para que se repense o mercado”, explica Celina Hissa, fundadora e diretora da Catarina Mina. 

Em relação à expansão da marca no cenário internacional, Hissa conta que já exporta para diversos países. “Já comercializamos para 17 países. Começamos o processo de internacionalização no final de 2017 e tivemos uma aceitação muito boa. Agora nosso desafio é estabelecer vínculos de longa duração com esses mercados que a gente já abriu. Queremos participar de várias feiras internacionais para fortalecer nosso mercado, fazendo com que seja duradouro”. 

Sobre as dificuldades iniciais de consolidação da marca no Brasil, a diretora conta que um dos principais obstáculos foi estar fora do mercado da região Sudeste. “Se consolidar como uma marca nacional estando fora do eixo Rio-São Paulo e sem grandes investimentos foi um dos grandes desafios para a marca. Temos uma atuação muito forte no artesanato e um olhar diferenciado para valorização desse trabalho regional, o que fez a gente conseguisse relevância nacional por ter propostas inovadoras nessa área", afirma. 

Para sustentar a regionalidade da empresa, Hissa ainda mantém a produção dos produtos no Ceará, distribuídas em várias localidades do Estado. “Nossa sede é em Fortaleza e trabalhamos com grupos em Itaitinga, Sobral, Aracatiaçu, na localidade de Icaraizinho de Amontada, Aracati, e toda a nossa produção é no Ceará. Queremos fortalecer grupos de artesãos no Ceará e aproveitar nossa localização em Fortaleza para trabalhar com quem está próximo e olhar para ao nosso Estado para ver o que pode ser feito de artesanato aqui”, pondera. 

Segundo a diretora da Catarina Mina, essa característica da empresa faz com que estrangeiros percebam a identidade da marca. “Quem não conhece a história da nossa marca consegue sentir quando olha o produto, consegue sentir a dedicação de todas as pessoas envolvidas nesse processo. Nós temos a percepção de como as pessoas se relacionam com o nosso produto, de como as pessoas se relacionam com nosso produto”, comenta. 

Empreendedorismo no sertão 

Legenda: “Eu trabalhava mais fazendo roupas para vaqueiros, ciganos, esse pessoal mais do sertão. Com o passar do tempo, foi se acabando os vaqueiros e ciganos e a gente não tinha como se manter", disse Espedito Seleiro
Foto: Foto: Divulgação

A 520,2 km de Fortaleza, Nova Olinda, região localizada no Sul do Estado, no Cariri, Espedito Seleiro iniciou seus trabalhos na fabricação de produtos feitos a partir do couro há 60 anos, onde também criou o seu próprio negócio com a família. “Eu trabalhava mais fazendo roupas para vaqueiros, ciganos, esse pessoal mais do sertão. Com o passar do tempo, foi se acabando os vaqueiros e ciganos e a gente não tinha como se manter. E aí decidi abrir um negócio próprio, criei um estilo diferente para preservar a tradição da nossa família”, acrescenta. 

Dessa forma, passou a confeccionar sandálias, roupas e outros acessórios feitos com couro legítimo, mas utilizando colorações diferentes. Para Seleiro, esse diferencial foi um dos fatores que fez com que os produtos ficassem conhecidos no Ceará e posteriormente no Brasil inteiro.  

“Quando eu comecei a fazer as peças coloridas, que não existia, a partir de couro natural, as pessoas começaram a comprar bastante. Então, começaram a me imitar e copiar, fazendo parecido e enganando dizendo muita gente, alegando que era eu que tinha feito. E aí eu criei uma marca para identificar os meus produtos, só pra ninguém ficar me plagiando. Cada peça minha tem meu nome, para manter a tradição que meu pai me ensinou”, conta Espedito. 

Seleiro conta que o negócio evoluiu graças ao esforço e paixão pelo trabalho. “Eu trabalho mais que os outros, começo às 4h da manhã e termino às 22h, graças a Deus, é com todo prazer. Se for pra eu escolher, são roupas de couro e cela, que eu gosto de fazer. Colete, gibão, eu também faço, mesmo sendo mais difícil. Sandália e bolsa é o que vendemos mais”, explica.  

A empresa de Seleiro também conta com a colaboração de familiares e amigos próximos, que também aprenderam a viver a tradição de manter a cultura nordestina nas peças. “Nós somos um grupo de pessoas trabalhando, tem dias que tem 10, 15, o pessoal trabalha de acordo pela quantidade de peças. A gente vive disso, sabe? Só ganha se fizer a peça. Nós somos um grupo familiar, mas tem algumas pessoas que eu botei pra ajudar a gente, foram criados junto com a gente”. 

As peças da marca dele possuem preços acessíveis, de acordo com o gosto dos consumidores, variando entre R$ 5 a R$ 2,5 mil, atrativas para turistas de todo o País. “Todos os dias tem movimento de turistas aqui, porque como aqui é um ponto turístico, as pessoas compram bastante. Se for por encomenda, depois a gente manda. Vem muito turista de fora e do próprio Ceará e do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, de todos os estados”, pontua. 

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