Incorporação da Smiles pela Gol não deverá impactar clientes, diz especialista

Segundo membro do Ibef, operação reflete a necessidade de reduzir os custos e as despesas das empresas

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br

A reestruturação societária que incorpora a Smiles à Gol Linhas Aéreas não deve impactar inicialmente os clientes do programa de fidelidade. Entretanto, para o membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), Gilberto Barbosa, a operação anunciada nessa segunda-feira (15) reflete numa necessidade de reduzir os custos e as despesas das empresas. 

"A sustentabilidade do programa a longo prazo é questionada. Não tem como a gente garantir que nesse tempo a Smiles vai existir. Agora a gente pode ver uma piora na qualidade dos serviços e no tipo de proposta que a Smiles vai oferecer para o cliente. Na tentativa de reduzir os custos pode ser que a empresa piore a qualidade do serviço prestado", analisa.  

Segundo ele, com o tempo o programa de fidelidade vai perdendo as características que antes eram vantajosas e que vão ficando desinteressantes para os clientes. "A gente tem outras opções no mercado que muitas vezes são mais interessantes que os programas de fidelidade tradicionais". 

Na opinião dele, a estratégia da Gol é no sentido de facilitar o controle da estrutura de custo.

"Por uma questão do mercado está ficando cada vez mais desafiador, isso pode sim se tornar uma tendência. A Smiles vem com uma perspectiva diferente para o mercado do que realmente aconteceu. Tem uma perspectiva de crescimento que não vai vir junto com a rentabilidade das empresas".
 

Barbosa afirma ainda que atualmente os mais prejudicados com a decisão são os acionistas minoritários da Smiles. "O programa vem de uma tese de crescimento com uma geração de caixa que permitiria que ela pagasse muitos dividendos então essa mudança drástica altera totalmente essa perspectiva de longo prazo da empresa. E o mercado já está refletindo essa perspectiva nova". 

De acordo com o membro do Ibef, o movimento da Gol mostra um desalinhamento entre as empresas e que foi um mau sinal de governança corporativa. "Por mais que pareça exagerado não é uma questão tão infundada. Realmente a empresa piorou muito a perspectiva dela e esse é um sinal de base de governança corporativa ruim e que é mal visto pelo mercado". 

Nessa segunda-feira, as ações da Smiles fecharam em queda de quase 40%, cotadas a R$ 31,70. 

Concorrência

Um dos motivos que fizeram a companhia tomar a decisão estão a concorrência nos mercados de aviação e nos programas de fidelidade. "O Grupo tem realizado esforços intensos e coordenados para aumentar a atratividade dos produtos de aviação da Gol Linhas Aéreas e a atratividade do programa de fidelidade da Smiles para seus clientes e parceiros. Apesar de tais esforços, limitações do Contrato Operacional e a existência de governança e bases de acionistas distintas revelaram obstáculos para a capacidade dos investimentos necessários e da otimização na coordenação do desenvolvimento de ofertas e produtos nos respectivos mercados das Companhias". 

Segundo o Grupo, esses obstáculos se tornaram um fardo para o desenvolvimento da Companhia. "Dado o aumento da necessidade pela Gol Linhas Aéreas da constante renovação de frota e crescimento da oferta de produtos e serviços, bem como o crescente acirramento da concorrência de programas de fidelidade".

A Gol também informou que segue as tendências das indústrias de aviação e dos programas de fidelidade. "O desalinhamento resultante de estruturas societárias separadas para os dois negócios prejudicou suas respectivas capacidades de competir. Ressalta-se que um dos principais programas de fidelidade do hemisfério norte foi recentemente recomprado pela principal companhia aérea do Canadá; a companhia aérea líder do México anunciou a intenção de recomprar a participação minoritária que anteriormente havia vendido; e não houve ofertas públicas iniciais de ações de programas de fidelidade controlados por companhias aéreas em aproximadamente 5 anos". 

Segundo a aérea, no Brasil, um dos principais concorrentes da Smiles, a Multiplus recebeu oferta pública de aquisição de ações, acompanhada de notificação de não renovação do contrato operacional entre o referido concorrente e a companhia aérea controladora de seu capital, visando a aumentar sua competitividade no mercado. 

"Adicionalmente, foram lançados nos últimos anos diversos programas de fidelidade, patrocinados por empresas não-aéreas, que alteraram ainda mais a dinâmica competitiva nesse mercado em comparação com 2013, quando a Smiles foi originalmente segregada".

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