Governo pode retaliar UE com taxa no leite

Aumento da tarifa de importação de leite como uma das medidas de retaliação às barreiras impostas pelos europeus ao aço brasileiro

Escrito por Estadão Conteúdo ,

O governo avalia aumentar a tarifa de importação de leite como uma das medidas de retaliação às barreiras impostas pelos europeus ao aço brasileiro. A medida seria uma forma de compensar os produtores rurais depois de, na semana passada, o Ministério da Economia suspender a cobrança de uma sobretaxa de 14% sobre importações de leite em pó, o que desencadeou uma forte reação da bancada ruralista.

Para especialistas, no entanto, não será uma tarefa fácil, até porque o País nunca conseguiu compensações do tipo em outras imposições de salvaguarda.

A equipe econômica entende que não é possível simplesmente aumentar a alíquota do imposto, porque se trata de uma tarifa comum do Mercosul e o aumento teria de ser negociado no bloco. Assim, a saída para atender à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) seria se valer de um dispositivo permitido pela Organização Mundial de Comércio (OMC).

Nas próximas semanas, o governo pretende solicitar compensações à União Europeia pelas barreiras que o bloco impôs ao aço no início do ano. A medida atingiu vários países e o pedido de compensação é previsto nas regras da OMC.

A equipe econômica avalia que poderá pedir compensações de US$230 milhões, ou seja, solicitando que União Europeia baixe tarifas impostas aos produtos brasileiros ou aumentar as tarifas de importação de produtos europeus neste mesmo montante.

O pedido de compensação é o primeiro passo nas negociações previstas nas normas da OMC em caso de imposição de salvaguardas. Se negado, mesmo assim o Brasil pode retaliar os europeus, aumentando tarifas sem negociação prévia, o que também é permitido pelas normas da OMC. Porém, o processo pode gerar uma série de questionamentos e se arrastar por um longo período até uma decisão do órgão.

Depois de o presidente Jair Bolsonaro anunciar no Twitter que o governo manteria "o nível de competitividade" do leite em pó com outros países, a equipe econômica estuda como fazer isso dentro das normas da OMC e sem envolver o Mercosul ou outros países. A ideia, então, é incluir o leite em pó nessa negociação sobre o aço com a UE.

A avaliação na equipe técnica é de que compensar os produtores de leite em pó é desnecessário, já que a importação é muito pequena - 2,5% em 2017, sendo apenas 0,01% da UE. Assim, os técnicos encontraram na compensação uma solução para o impasse, já que a pressão da bancada agrícola poderia interferir na reforma da Previdência.

Na terça-feira, após reunião com representantes do governo, o presidente da FPA, Alceu Moreira (MDB-RS), afirmou que uma medida seria publicada até a quinta-feira para aumentar o imposto de importação de 28% para 42%, o que igualaria o porcentual da taxa com o antigo antidumping, cujo período de vigência terminou.

Dificuldades

Para o ex-secretário de Comércio Exterior e especialista na área Welber Barral, conseguir incluir o leite nas negociações de retaliação do aço não é tarefa fácil. Ele lembra que o Brasil nunca conseguiu compensações do tipo em outras imposições de salvaguarda. No início dos anos 2000, os norte-americanos impuseram barreiras ao aço, e o Brasil conseguiu abrir o mercado para a carne, mas não aumentar tarifas de importação.

 "Os produtos alvo da compensação têm de ser negociados, não necessariamente beneficiam o setor que o governo quer. Geralmente as negociações são para acesso ao mercado, não para impor barreiras."

A solução encontrada para atender os produtores de leite em pó pode desencadear novos pedidos para manutenção de taxas antidumping que estão prestes a vencer. 

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