Ex-presidente do BC, Pastore vê reabertura econômica na País 'prematura'

Na avaliação de Pastore, a estratégia de saída da crise depende de dois fatores: da situação econômica do País quando a crise começou e como o governo está lidando com o problema

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: Para haver chance de recuperação, Filizola pontua que será necessário apoio integral do Governo do Estado
Foto: Foto: José Leomar

O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore afirmou há pouco que vê como prematura a reabertura da economia no Brasil antes do início do achatamento da curva de mortes pela Covid-19. Ele destaca que todos os países que reabriram suas economias esperaram a queda no número de mortes. "Nossa recessão vai durar mais tempo. Vamos abrir, mas vamos ter de fechar de novo, desculpem dar esse tipo de notícia num sábado", afirmou o economista, que participa neste sábado do webinar realizado pela Instituição Fiscal Independente (IFI) em parceria com o IDP e a FGV/EESP. O encontro tem como tema "Saídas para a Crise" e está sendo moderado pelo diretor executivo da IFI, Felipe Salto.

Várias governos regionais no Brasil iniciaram nos últimos dias programas de reabertura, como por exemplo o do Estado de São Paulo, comandado pelo tucano João Doria, que anunciou na quarta-feira (27) um plano de "Retomada Consciente" a partir de 1º de junho. São Paulo tem mais de 100 mil casos de coronavírus e 7,275 mil mortes.

Na avaliação de Pastore, a estratégia de saída da crise depende de dois fatores: da situação econômica do País quando a crise começou e como o governo está lidando com o problema. Segundo o ex-presidente do BC, o "Brasil reagiu muito mal" em relação ao resto do mundo e, com isso, aqui "a recessão será mais longa e o número de mortes, maior. "Só Guedes vê recuperação em V, ninguém mais", afirmou.

A estimativa do economista é de queda do PIB da ordem de 7% este ano. Só em função desse fator, a relação dívida/PIB fecharia o ano acima de 90%, mas na prática deve superar 100% por causa do aumento do gasto para combater a economia e com o risco de prorrogação do pagamento do auxílio-emergencial.

"Nossa fragilidade é muito grande, não tem como fazer a política fiscal acelerar o crescimento como em 2008 e 2009", afirmou. Para ele, o que é possível fazer são concessões em infraestrutura à iniciativa privada. "O único instrumento para estimular demanda agora é a política monetária", afirma.

Na medida em que a fase aguda da crise passar, Pastore defende a retomada da disciplina fiscal com o cumprimento do teto de gastos e agenda de reformas. "Não há saída a não ser retornar para a austeridade.Se não, há perspectiva de crise contínua", disse.

Num cenário mais pessimista, o populismo pode se instalar, o que aumenta o risco de sustentabilidade da divida num quadro de dominância fiscal. "É muito fácil defender isso dentro de governos, já vi no passado', afirmou.

Já o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) chamou de "ridícula" a atitude do presidente Jair Bolsonaro marchar com um grupo de empresários ao Supremo Tribunal Federal (STF) dias atrás. O senador lamentou que o País esteja sem comando e sem rumo, mas destacou que o Legislativo vem fazendo a sua parte. E em linha com Pastore, também falou dos riscos do populismo.

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