Desvio de dinheiro do BNDES para bancar Previdência é alvo de críticas

Projetos de longo prazo no país, como os ligados, por exemplo, a ferrovias, serão diretamente prejudicados pela mudança

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Felipe Salto, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirma que a desidratação das mudanças das regras previdenciárias, foi alta. Ele critica a tentativa de recompor essa economia perdida com medidas de aumento de receitas de outras fontes.

A proposta de desviar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para cobrir despesas com aposentadorias e pensões está entre os pontos mais polêmicos do relatório apresentado nesta quinta-feira (13) pelo relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB).

Atualmente, a Constituição determina que 40% dos recursos do FAT devem ser direcionados ao BNDES. O relator acatou emenda do deputado Eduardo Cury (PSDB-SP), que propõe o redirecionamento dos recursos, "que deixariam de ser destinados ao financiamento de programas de desenvolvimento econômico".

Projetos de longo prazo no país, como os ligados, por exemplo, a ferrovias, serão diretamente prejudicados pela mudança, diz Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

"A mudança é um equívoco pavoroso, parte do pressuposto de que o BNDES é pouco utilizado, mas isso acontece hoje porque o investimento em infraestrutura está baixo". "Em uma eventual retomada econômica, haverá escassez de financiamento. Reduzir mais ainda o orçamento do banco é uma temeridade."

Felipe Salto, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, afirma que a desidratação daquilo que importa, que são as mudanças das regras previdenciárias, foi alta. Ele critica a tentativa de recompor essa economia perdida com medidas de aumento de receitas de outras fontes.

"Questões como o FAT nada têm que ver com a Previdência. É retirar o financiamento do investimento, o pouco que existe, para pagar despesa corrente", afirma.

Capitalização

A retirada da proposta de capitalização da reforma da Previdência, umas das principais novidades em relação ao texto apresentado pelo governo anterior, é outro tema polêmico gerado pelo relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB).

Luís Eduardo Afonso, professor da USP especialista em Previdência, afirma que o Brasil perdeu a oportunidade de discutir a adoção de um regime de capitalização como um dos pilares da Previdência.

"O modelo que o governo estava colocando era radical, com custo muito alto e questões como cobertura e exclusão que não estavam bem equacionadas, mas não me parece que a retirada pura e simples seja a melhor estratégia", afirma o especialista.

"O regime de capitalização gera poupança interna e ajuda a fomentar o investimento. Seria mais adequado aperfeiçoar a proposta e avançar na discussão de um modelo. É uma discussão importante e válida para o longo prazo."

O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wellington Leonardo da Silva, avalia como positiva a retirada desse ponto da proposta em discussão.
"De 30 países que fizeram a privatização do sistema de Previdência pública, 18 já revisaram total ou parcialmente as suas posições. O Chile é o exemplo emblemático", diz.

Ele cita ainda os casos de Peru, Argentina, Colômbia, Hungria, Polônia e Rússia como exemplos. "Seria a destruição da Previdência pública no país."

Francisco Olivieri, mestre em administração estratégica e superintendente-geral do Instituto Mauá de Tecnologia, também tem a avaliação de que o regime de capitalização dificilmente funcionaria no Brasil.

"No Chile, não deu certo. Em um país como o nosso, seria difícil de colocar em prática, pois o brasileiro já não tem o costume de poupar. E quem não tem emprego não tem como arranjar o dinheiro para capitalizar."

Para Olivieri, a expectativa é que o texto seja alterado ainda nas votações na comissão especial e nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado, o que deve reduzir a economia prevista de cerca de R$ 1 bilhão. "Como essa reforma não vai ser suficiente [para equilibrar o sistema], em alguns anos vamos ter de voltar a discutir isso]", afirma.

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